Resumo

Parece haver certo consenso de que a população idosa em nosso país está em franca expansão (Camarano, 2010). É fato comumente aceito que a população idosa é frequentemente exposta a uma série de doenças e agravos crônicos que podem culminar com sequelas que limitam o desempenho funcional e laboral destes indivíduos. Além disto, tais limitações são, normalmente, geradoras de certa relação de dependência e da necessidade premente de cuidados (da própria família ou de terceiros). É dentro deste escopo que a atividade de cuidado de idosos ganha relevância científica e social.

A questão que norteia a realização do presente trabalho é: como se configura o trabalho de cuidadores domiciliares de idosos ? Para responder a este problema de pesquisa, o objetivo deste artigo consiste em buscar compreender um pequeno fragmento da realidade da atividade de cuidado, qual seja, aquela relacionada às especificidades do trabalho domiciliar de cuidadores de idosos, através da análise de cada uma de suas cinco dimensões (física, cognitiva, relacional, sexual e emocional).

As discussões acerca da temática do trabalho de cuidado (care) vem ampliando-se, consideravelmente, ao longo dos últimos anos, seja no âmbito dos países anglo-saxônicos ou dos francófonos (Conradson, 2003; Green & Lawson, 2011; McKeever et al., 2006; Sims-Gould et al., 2011; Hassim, 2008; Sentilhes-Monkan, 2005; Romero, 2016). Particularmente no Brasil, tal debate vem ganhando espaço especialmente no âmbito das ciências sociais (Hirata & Guimarães, 2012; Abreu, Hirata, & Lombardi, 2016; Peixoto & Holanda, 2011).

O presente trabalho, de natureza essencialmente qualitativa teve, como recorte, a atividade de cuidado domiciliar de idosos em uma cidade do interior de Minas Gerais. Uma vez que tal objeto possui contornos amplos e complexos, optou-se, para fins deste artigo, em uma análise das dimensões laborais específicas desta atividade na perspectiva de seus atores principais, quais sejam, os próprios cuidadores. Neste sentido, foram realizadas dez entrevistas em profundidade a partir de um roteiro previamente construído.

Observou-se que a atividade de cuidado domiciliar de idosos possui forte caráter físico e apresenta-se como tendo natureza repetitiva e precária. Além disto, exige, de seu executor, diversas mobilizações de ordem emocional de forma a construir uma relação de confiança entre paciente e cuidador. Demanda, ainda, certa estratégia de naturalização frente as tarefas de lidar com excrementos ou partes sexuais do idoso e carece de um aprendizado anterior (formal ou informal) para seu pleno exercício.

Os achados desta pesquisa parecem estar em consonância com aqueles apresentados por Soares (2012) e Hirata (2016) em relação a atividade laboral dos cuidadores em geral e aos cuidadores domiciliares em específico. Este estudo contribuiria, portanto, para um aprofundamento da análise da atividade de cuidado dentro de um subgrupo social específico, qual seja, a dos cuidadores domiciliares que atendem a um grupo social tradicionalmente marginalizado e invisibilizado (idosos).

Abreu, A. R. P., Hirata, H., & Lombardi, M. R. (2016). Gênero e trabalho no Brasil e na França: perspectivas interseccionais. São Paulo: Boitempo. Causse, L., Fournier, C., & Labruyère, C. (1998). Les aides à domicile: des emplois en plein remue-ménage. Paris: Syros. Dussuet, A. (2005). Travaux de femmes: enquêtes sur les services à domicile. Paris: L'Harmattan. Hirata, H., & Guimarães, N. A. (2012). Cuidado e cuidadoras: as várias faces do trabalho do care. São Paulo: Atlas. Peixoto, A. J., & Holanda, A. F. (2011). Fenomenologia do cuidado e do cuidar. Curitiba: Juruá.