Resumo

Uma das formas de sofrimento vivenciada cotidianamente nas organizações é decorrente da discriminação do diferente, da recusa do outro, da falta de gosto da alteridade e da diversidade. Neste contesto, o homossexual, é um dos grupos mais discriminados nas organizações. O indivíduo homossexual, muitas vezes se vê desamparado em situações de preconceito, de homofobia, de discriminação e também de oportunidades na organização (SIQUEIRA et al., 2009). Embora muitas delas buscam meios de gerenciar a diversidade e inibir práticas discriminatórias, homofóbicas e de violência relacionadas a homofobia.

O indivíduo homossexual, revelado ou não, se encontra muitas vezes em situação fragilizada nas organizações, sendo alvo de piadas homofóbicas, discriminação e desigualdade de tratamento. Estas práticas, violentas, ao longo do tempo podem se configurar como assédio moral. O assédio pode iniciar pela recusa de uma diferença, as quais podem se manifestar por comportamentos de discriminação (HIRIGOYEN, 2006). Portanto, esta pesquisa objetiva identificar as ocorrências de assédio moral no trabalho contra homossexuais em organizações da região oeste de Santa Catarina.

A caracterização do assédio moral parte das relações interpessoais, porém atualmente, sua ocorrência deixou de ser centralizada nos indivíduos para se analisar também a organização, e consequentemente a cultura organizacional e local (NUNES; TOLFO, 2013a). Apesar da organização ser corresponsável pela prática ou inibição do assédio, a própria sociedade influência e reforça comportamentos e ações, tal qual o preconceito e a discriminação. Para Siqueira et al. (2009) a problemática do assédio moral adquire contornos mais dramáticos quando envolve a homofobia.

A pesquisa foi classificada como qualitativa e descritiva, tendo como público-alvo trabalhadores homossexuais do oeste catarinense. Para a coleta de dados, foram realizadas entrevistas individuais (9), a partir de um roteiro semi-estruturado, com questões sobre assédio moral e homossexualidade. A divulgação ocorreu nas mídias sociais com grupos que debatem sobre direitos dos homossexuais, conversas informais com pessoas pertencentes aos grupos de ativismo LGBT região pesquisada. A análise dos dados ocorreu mediante a análise de conteúdo.

Ficou evidenciado que as violências hostis ocorreram principalmente devido ao preconceito, envolvendo situações de atentado contra a dignidade do alvo, de uma forma mais direta, aberta e coletiva, como por exemplo: frases ofensivas, zombarias, críticas injuriosas, insinuações, chacotas e outras situações relacionadas a homossexualidade da vítima. Aponta-se que os participantes acreditam ser comum a prática do assédio moral contra homossexuais em virtude do grande preconceito existente na sociedade. Ademais, observou que a maioria não sabia do fato de estar sendo vítima de assédio.

A descrição da vivência de situações hostis, como a discriminação contra homossexuais no ambiente laboral é fundamental e necessária para desmitificar um assunto que é evitado nas organizações e na sociedade, as quais são até certo ponto preconceituosas. As violências e os crimes de ódio contra este grupo ocorrem frequentemente por muitos agentes e grupos, não raros, políticos, gestores e religiosos, os quais deveriam desenvolver práticas, ações, comportamentos e políticas a favor dos direitos humanos, sem levar em consideração a cor, origem, opção sexual e financeira do indivíduo.

- HIRIGOYEN, M-F. Mal-estar no trabalho: redefinindo o assédio moral. 3. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006. - IRIGARAY, H. A. R. Orientação Sexual e Trabalho. GV Executivo, v. 10, p. 44-47, 2011. - IRIGARAY, H. A. R; SARAIVA, L. A, S.; CARRIERI, A. P. Humor e Discriminação por Orientação Sexual no Ambiente Organizacional. RAC, Curitiba, v. 14, n. 5, p. 890-906, 2010. - SIQUEIRA, M. V. S. et al. Homofobia e violência moral no trabalho no Distrito Federal. O&S, Salvador, v.16, n. 50, p. 447-461, 2009.