Resumo

Este artigo se propõe a analisar a influência do ecossistema de empreendedorismo no comportamento dos empreendedores, com foco na indústria brasileira de aplicativos. Esta indústria foi impulsionada pela massiva adoção de dispositivos móveis por usuários ao redor do mundo e se mostra propícia ao surgimento de startups com alto potencial de crescimento (FEIJOO et al., 2012). Os ecossistemas de empreendedorismo buscam oferecer as condições para que startups e empreendedores se desenvolvam (ISENBERG, 2011). Sendo assim, é necessário compreender sua influência no comportamento dos empreendedores.

Pesquisas acadêmicas com a abordagem de ecossistemas de empreendedorismo ainda são escassas e há diversas lacunas a serem preenchidas - entre elas, o número de estudos empíricos sobre esses ecossistemas, que ainda é pequeno (STAM, 2015). Assim, esta pesquisa busca responder à seguinte questão: como o ecossistema de empreendedorismo influencia o comportamento dos empreendedores? O objetivo, portanto, é analisar a influência do ecossistema de empreendedorismo no comportamento dos empreendedores. Para isso, definiu-se como objeto a indústria criativa de aplicativos em Recife/PE e Porto Alegre/RS.

Ecossistemas de Empreendedorismo são ambientes que apoiam empreendedores na criação e desenvolvimento de novos negócios (ISENBERG, 2010). Para Isenberg (2011), ecossistemas são compostos pelos domínios: Políticas Públicas, Capital Financeiro, Cultura, Instituições de Suporte, Recursos Humanos e Mercados. Já Comportamento Empreendedor foi considerado o resultado de traços, cognição, motivação, emoção, conhecimento, aptidões e habilidades (BIRD; SCHJOEDT e BAUM, 2012). Para fins de análise, estes elementos formaram dimensões: Características Intrínsecas, Tomada de Decisão e Ação Empreendedora.

Empregou-se na pesquisa o método "estudo de caso". Foram selecionados empreendedores da indústria de aplicativos de Porto Alegre/RS e Recife/PE, cidades que se destacam como polos de empreendedorismo e inovação. A coleta de dados ocorreu entre fevereiro e novembro de 2016, através de observação, análise de documentos e entrevistas com três empreendedores de Porto Alegre, três de Recife e três especialistas em empreendedorismo em cada uma das cidades. Os dados foram analisados através do conjunto de técnicas denominado "análise de conteúdo".

Os ecossistemas contribuem para que os traços empreendedores se manifestem, mas não influenciam em seu desenvolvimento. Os ecossistemas também não são determinantes na Tomada de Decisão, mas servem como motivação extrínseca para os empreendedores. Por outro lado, os ecossistemas influenciam diretamente a Ação Empreendedora, através dos Recursos Humanos e Instituições de Suporte. Então, a influência do ecossistema no comportamento dos empreendedores se mostra mais intensa na "Ação Empreendedora", exerce influência intermediária na "Tomada de Decisão" e baixa em "Características Intrínsecas".

Percebe-se que, em Recife, o ecossistema de empreendedorismo está mais desenvolvido e, possivelmente, tem mais potencial para influenciar positivamente o comportamento dos empreendedores do que o de Porto Alegre. A principal contribuição teórica dessa pesquisa é indicar a relação entre ecossistema de empreendedorismo e comportamento empreendedor. Além disso, trata-se de um estudo empírico sobre ecossistemas de empreendedorismo. A pesquisa também evidencia novas oportunidades de estudo e se situa no contexto da economia digital, tema emergente na área de empreendedorismo e inovação.

BIRD, B.; SCHJOEDT, L.; BAUM, J. R. Editor's Introduction. Entrepreneurs' Behavior: Elucidation and Measurement. Entrepreneurship Theory and Practice, v. 36, p. 889–913, 2012. FEIJOO, C. et al. Mobile gaming: industry challenges and policy implications. Telecommunications Policy, v. 36, p. 212–221, 2012. STAM. E. Entrepreneurial Ecosystems and Regional Policy: A Sympathetic Critique, European Planning Studies, 23:9, 1759-1769, 2015. ISENBERG, D. J. The Entrepreneurship Ecosystem Strategy as a New Paradigm for Economic Policy. Dublin: Institute of International European Affairs, 2011.