Resumo

Título do Artigo

O ORGANIZAR DAS PRÁTICAS PIRATAS: UM ESTUDO NO CENTRO COMERCIAL DA CIDADE DE FORTALEZA
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Palavras Chave

Mercado Pirata
Práticas de Resistência
Ética Tenaz

Área

Marketing e Comportamento do Consumidor

Tema

Consumo, Sociedade e Materialismo

Autores

Nome
1 - Felipe Gerhard
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ (UECE) - Programa de Pós-Graduação em Administração
2 - Lucas Lopes ferreira de Souza
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ (UECE) - Campus Itapery
3 - Ana Silvia Rocha Ipiranga
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ (UECE) - PPGA

Reumo

Por ser uma atividade do dia-a-dia do brasileiro, o combate à pirataria vem se tornando uma tarefa difícil para o governo e às organizações privadas, principalmente pelo fato de que, no contexto nacional, comprar produtos falsificados é mais barato, acessível e muitas vezes possuem qualidade similar ao original. Entretanto, a pirataria não possui apenas aspectos negativos. Ao contrário, se caracteriza como um vetor importante para a movimentação da economia, gerando emprego e renda a uma população às margens do mercado formal (PARKER, 2008; PARKER, 2012)
O objetivo deste artigo é compreender como se organizam as práticas cotidianas do mercado pirata no centro comercial da cidade de Fortaleza – CE. Espera-se identificar quais são as estratégias e astúcias que caracterizam a relação de consumo pirata entre vendedores e consumidores. Em um segundo momento, objetiva-se compreender o comportamento dos atores participantes dessa relação por meio do conceito de ética tenaz de De Certeau (1994), reconhecendo a pirataria como uma atividade ambivalente, onde sua presença traz benefícios e malefícios
Para compreender como ocorrem as práticas do mercado pirata e entender a ética tenaz envolvida nesse contexto, é necessário conhecer como os espaços são moldados e construídos a partir da interação entre o governo, consumidores e vendedor de produtos piratas. A construção do espaço social é produzida pelo caminhar dos atores. Ademais, a construção ocorre de forma móvel, não sendo delimitada a lugares rígidos ou edificações, sendo essa construção operada na lógica de lance por lance, que não segue uma ordem institucionalizada pelos poderes vigentes, mas pelos saberes, práticas e astúcias
Com objetivo de compreender como se organizam as práticas cotidianas do mercado pirata no centro comercial da cidade de Fortaleza – CE, uma pesquisa de natureza qualitativa foi realizada tendo como principal técnicas a observação sistemática, a elaboração do caderno de campo e a entrevista em profundidade. Os procedimentos de observação foram realizados durante as caminhadas pelo centro de Fortaleza. Foram percorridos shoppings centers, lojas, centros de comércio populares, feiras-livre, além de caminharmos por calçadas e ruas povoadas por vendedores ambulantes
A lateralidade das práticas piratas se traduz em uma possibilidade viável de subsistência. Tais práticas, entretanto, ocorrem em meio a uma marcada tensão social, atuando diretamente no duelo entre a manutenção sagrada da vida e a inobediência tanto ao poder jurídico quanto à moralidade socialmente aceita. Esse conflito promove o surgimento de uma assembleia de práticas e arranjos materiais, bem como de uma ética anticonformista própria. Descrevemos as práticas e os processos relacionados ao cotidiano do mercado de produtos piratas à medida que relatamos a nossa vivência cotidiana em seu seio
A pesquisa revelou um conjunto de práticas, muitas vezes contraditórias, que ajudam a compor o mercado pirata, tais como: práticas mafiosas, práticas de subsistência, práticas de lidar com a “transgressão”, práticas de camuflagem, além de diversas outras pequenas práticas de desvio. Juntas, compõem a ética astuciosa dos agentes presentes nesse mercado marginal. Ademais, pode-se compreender a pirataria como uma contra-cultura regida por uma ética tenaz em que vendedores, consumidores e até mesmo o poder público tem participação ativa na formação do cotidiano
De CERTEAU, M. A invenção do cotidiano 1: artes de fazer. RJ: Vozes, 1994. FRANCO, B. L.; OLIVEIRA, J. As Práticas de Constituição dos Espaços Organizacionais e dos Espaços das Cidades: Contribuições de Michel de Certeau aos Estudos Organizacionais. In: Anais do Congresso Brasileiro de Estudos Organizacionais. 2016. PARKER, M. Alternative business: Outlaws, crime and culture. Routledge, 2012.