Resumo

Título do Artigo

UM PASSADO PRESENTE: DINÂMICAS DE MEMÓRIA E ESQUECIMENTO NO MEMORIAL DA RESISTÊNCIA DE SÃO PAULO
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Palavras Chave

Memórias e identidades coletivas
Lugares de memória
Ditadura civil-militar

Área

Estudos Organizacionais

Tema

Simbolismos, Culturas e Identidades Organizacionais

Autores

Nome
1 - Talita de Oliveira Trindade
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO DE JANEIRO (PUC-RIO) - IAG - Departamento de Administração
2 - Juliana Molina Binhote
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO DE JANEIRO (PUC-RIO) - IAG - Programa de Pós-Graduação em Administração
3 - Alessandra de Sá Mello da Costa
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO DE JANEIRO (PUC-RIO) - IAG - Departamento de Administração

Reumo

O legado da ditadura civil-militar brasileira ainda é permeado por disputas de memória em curso. Um deles é sobre os territórios materiais e simbólicos da memória onde o regime militar operava com seus dispositivos de vigilância e repressão. Este artigo buscou analisar a constituição do Memorial da Resistência de São Paulo (MRSP), estabelecido em um edifício que serviu de sede de uma das forças policiais mais violentas do país, o chamado DEOPS. O objetivo foi desvelar as disputas e negociações subjacentes à sua formação, bem como a ressignificação de memórias acerca de ditadura e resistência.
Assumindo que espaços de memória são espaços processuais organizativos em andamento onde a memória coletiva é sempre negociada e contestada, a questão norteadora deste estudo foi: de que maneira a constituição do MRSP evidencia disputas e dinâmicas de memória coletiva? Desse modo, o objetivo desta pesquisa foi identificar: (1) como ocorreu o processo de construção do MRSP e quais os principais agentes sociais envolvidos; e (2) como o MRSP, cotidianamente, (re)constrói e transmite suas memórias por meio da organização do seu espaço e o que isso nos diz acerca da dinâmica da memória coletiva.
Este artigo fundamenta-se em perspectivas críticas sobre memória organizacional, que reconhecem a natureza dinâmica entre memória e esquecimento e as dinâmicas de poder que estão por trás da escolha de quais informações devem ser parte da estrutura de memória de uma organização e quais não devem (Nissley e Casey, 2002). Essa perspectiva se distancia dos estudos iniciais sobre o assunto, que adotam uma visão utilitarista do processo de tomada de decisão e deslocam o foco dos fatores sociais e políticos envolvidos na formação e construção (e esquecimento) da memória organizacional.
Realizou-se uma pesquisa histórica, com base em fontes bibliográficas, documentais (documentos do MRSP e da CNV) e orais (entrevistas), além observação participante durante duas visitas técnicas ao espaço do MRSP. As fontes foram organizadas em três fases do processo de memorialização: (1) a ideia inicial e o desenvolvimento do projeto em si (e quais agentes sociais estavam envolvidos, (2) a narrativa dominante (o que ele escolheu lembrar e o que ele escolheu esquecer?) e (3) e a recepção do memorial após a sua organização (continuação de um embate?).
A escolha por uma narrativa museológica em detrimento de outras narrativas memorialísticas se dá tanto pela sua autenticidade, quanto pela capilaridade dos museus. O espaço é uma categoria necessária para o tipo de enquadramento pelo projeto museológico de institucionalização da memória. A função comemorativa é mantida quando as narrativas do passado são mantidas vivas e em constante comunicação com questões presentes (Rigney, 2008). Para isso, o MRSP atua em seis diferentes frentes, que permitem sua articulação com diversos atores, em múltiplos âmbitos da sociedade, e suas demandas atuais.
O MRSP exerce uma dupla função. Quando criado, fundou os meios de escuta de memórias até então silenciadas, etapa essencial para o estabelecimento de um projeto politico e identitário. Esse processo foi centrado em experiências mnemónicas e sensoriais. A partir de então, o MRSP passou a ocupar um outro espaço de ação na sociedade, mais amplo e que pretende dialogar com uma geração de adolescentes e jovens temporalmente distantes do período da ditadura civil-militar de 1964. Para isso, o MRSP realiza uma série de atividades de ressignificação do espaço e das noções de militância e resistência.
Catela, L. (2001) No habrá flores en la tumba del pasado. Las experiencias de reconstrucción del mundo de los familiares de desaparecidos. La Plata, Argentina: Ediciones Al Margen. Nissley; N.; Casey, A. (2002) The Politics of the Exhibition: Viewing Corporate Museums Through the Paradigmatic Lens of Organizational Memory’. British Journal of Management, 17: 535-543. Nora, P. (1993) Entre memória e História: a problemática dos lugares. Projeto História, São Paulo, n. 10. Pollak, M. (1989) Memória, Esquecimento, Silêncio. Estudos históricos, Rio de Janeiro, vol.2, n. 3, p. 3-15.