Resumo

Partiu-se dos pressupostos ontológicos e epistemológicos do construcionismo para analisar estratégia como prática social em uma cachaçaria artesanal. O estudo foi estruturado pelos conceitos de repertórios interpretativos, práticas discursivas, práticas organizacionais, práxis social estratégica, história da organização e contexto sócio histórico. Ao considerar a estratégia como práxis transformadora da realidade organizacional e dos praticantes, admite-se que sua construção se sustenta por um conjunto de atividades reflexivas, orientadas por saber socialmente construído e compartilhado.

Porque e como as estratégias são construídas ao longo da história das organizações? Como este contexto tem sido interpretado pelos praticantes da estratégia? Que práxis e práticas foram construídas, mantidas e transformadas pelos praticantes ao longo da história das organizações? Como se deu a participação dos praticantes neste processo? Para responder a essas questões de pesquisa, esse estudo tem por objetivo abordar o processo de construção e transformação das estratégias socialmente construídas em uma organização produtora de cachaça artesanal, no estado de Minas Gerais.

Práxis implica junção de teoria e prática em um mesmo “nexus”, que orienta a ação humana nas organizações, abarcando o que é realizado pelos praticantes e suas explicações. Práticas sociais são produto e produtora das relações entre os agentes coletivos da organização, socialmente organizadas e constituídas por diferentes ações no tempo e espaço. Praticantes são agentes coletivos imersos em relações estruturais e de mercado. O estudo da estratégia como prática social investiga interconexões entre a práxis, práticas e praticantes, sendo o fazer estratégia o ponto de interseção entre elas.

O estudo envolveu diferentes métodos, como história oral, observação direta, entrevistas em profundidade, conversações, recursos fotográficos e vídeo. Por meio desses métodos buscou-se captar as falas, produção de sentidos, interpretações, gestos, eventos, tecnologias, artefatos, meios de produção, dentre outros elementos que compunham parte da realidade organizacional. Foram realizadas visitas à organização, nas quais foi possível interagir com diferentes praticantes da estratégia organizacional, como o proprietário da organização, seus filhos e sua esposa, assim como alguns funcionários.

A estratégia da cachaçaria “Sabor Aprazível” foi marcada por muitas transformações, sendo a reconstrução sócio-histórica importante para a compreensão desses movimentos e da forma como as práticas evoluíram com o passar do tempo. Essa reconstrução também evidenciou os momentos de práxis que levaram a redirecionamentos estratégicos, impactados, em grande medida, pelo contexto externo. Destaca-se o valor da tradição e da marca para a organização, que se apoia na experiência centenária e forma artesanal para posicionar o seu produto no mercado e manter o seu público consumidor.

Ao estudar as estratégias de uma produtora de cachaça como um conjunto de práticas construídas pelos diferentes atores em um contexto histórico, esse estudo contribuiu para o entendimento da formação da estratégia como um processo social e temporal, reconstruído por meio da práxis de seus agentes internos e também da ação de agentes externos. Nesse sentido, torna-se possível dar conta da complexidade envolvida no “fazer estratégia” e se reconhece a atuação de diferentes praticantes enquanto construtoras da sua realidade pessoal e da realidade organizacional.

JARZABKOWSKI, P., BALOGUN, J. ; SEIDL, D. Strategizing: The challenges of a practice perspective. Human Relations, 2007, 60(1), 5-27. JARZABKOWSKI, P; SPEE, A. P. Strategy-as-practice: A review and future directions for the field. International. Journal of Management Reviews, 2009, 11 (1), pp. 69–95 VAARA, E. WHITTINGTON, R. Strategy as Practice: Taking social practices seriously. Academy of Management Annals. 2012. WHITTINGTON, R. Completing the Practice Turn in Strategy. Research. Organization Studies, v.27, n.5, p.613–634, 2006.