Resumo

A mobilidade é um dos temas mais desafiadores para os gestores públicos. Atualmente, nota-se uma tendência de uso das Tecnologias de Informação e Comunicação por modelos de negócios inovadores com foco no cidadão nesta área, por meio da oferta de serviços de transporte individual remunerado em veículos particulares intermediada por aplicativos de empresas de tecnologia. No Brasil, a demanda e a oferta crescem em ritmo acelerado e em São Paulo há inclusive uma lei específica para regular o serviço.

O foco da pesquisa foi investigar qual o impacto urbano das novas tecnologias de deslocamento individual na Grande São Paulo, por meio da identificação do nível de posse e da intenção de compra de veículo próprio por parte dos usuários; bem como do nível de utilização e razões de uso de ridesharing. Além disto, buscou-se comparar a utilização de diferentes meios de deslocamento antes e depois do surgimento destas novas tecnologias e medir a variação causada pelo ridesharing nos demais modais.

A fundamentação teórica deste trabalho está pautada em Smart Cities e a aplicação de Tecnologias de Informação e Comunicação em modelos de negócio de economia compartilhada em mobilidade. Além dos conceitos, estudos que mapearam impactos da introdução de modelos de carsharing e ridesharing quanto à utilização de modais, intenção de compra e posse de veículo próprio, além das razões de uso de ridesharing foram revistos para a identificação de oportunidades de estudos e definição dos objetivos desta pesquisa.

A pesquisa segue a abordagem quantitativa com instrumento de coleta survey, com aplicação longitudinal adaptada para before & after para variáveis que buscavam medir o comportamento atual e anterior. O instrumento de coleta final tem 56 perguntas construído online e a amostra foi selecionada por conveniência. Foram coletados 398 questionários completos e se utilizou 259 na análise de dados. As análises descritiva, de correlação e regressão linear multivariada foram utilizadas com o objetivo de compreender o nível de utilização de modais e as razões de uso dos usuários na Grande São Paulo.

A pesquisa com usuários de ridesharing na Grande São Paulo demonstrou a redução em 15,14% na posse de veículos e a variação negativa de 13,38% na utilização de carros, sendo que não há indícios fortes de que o nível de renda e educação tenham impactado significativamente nessa redução do uso de carros. A intenção de compra de veículos também reduziu 17,58%. As três principais razões de uso de ridesharing são custo (mais barato que outras alternativas), alternativa ao transporte público e alternativa para não dirigir depois de beber.

Os resultados sugerem que a inserção das novas tecnologias de deslocamento individual (ridesharing) na Grande São Paulo exerce influência sobre a mobilidade urbana. Como na América do Norte, em que usuários de carsharing reduziram a posse de veículos próprios e a intenção de compra, há indícios de que o mesmo acontece com usuários de ridesharing. Além disso, observa-se variação negativa na utilização de carros, sendo que os resultados sugerem que esse impacto se deve à utilização de ridesharing. As principais razões de uso de ridesharing na Grande São Paulo diferem dos Estados Unidos.

As referências bibliográficas consultadas foram os principais autores que abordam smart cities, modelos de negócios de mobilidade em economia compartilhada e artigos científicos sobre o perfil dos usuários e acerca do impacto desses modelos de negócios na mobilidade e seus usuários. Para compreensão sobre ridesharing na Grande São Paulo foram consultados a regulamentação municipal de São Paulo além de dados na mídia acerca das empresas.