Resumo

Título do Artigo

O PATRIARCADO (AINDA) NÃO MORREU: RELAÇÕES SOCIAIS DE SEXO NA COZINHA DOMÉSTICA
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Palavras Chave

Patriarcado
Relações sociais de sexo
Cozinha doméstica

Área

Estudos Organizacionais

Tema

Genero, Diversidade e Inclusão nas Organizações

Autores

Nome
1 - Felipe Gouvêa Pena
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS (UFMG) - Faculdade de Ciências Econômicas
2 - Luiz Alex Silva Saraiva
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS (UFMG) - Faculdade de Ciências Econômicas
3 - Alexandre de Pádua Carrieri
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS (UFMG) - Faculdade de Ciências Econômicas

Reumo

Não obstante os avanços nos movimentos das mulheres em todo o mundo, o patriarcado espreita as sociedades. A discussão do espaço público e do espaço privado historicamente destinou à mulher a responsabilidade pela esfera do ambiente doméstico. O cuidado da casa, principalmente em famílias menos abastadas, sempre foi instituído como encargo da mulher. Também em residências de maior poder aquisitivo, o “zelo” pela moradia era atribuição feminina, mesmo que, nesse caso, fossem as empregadas domésticas as responsáveis.
Nesse artigo se problematiza para analisar a permanência do patriarcado – enquanto forma de dominação – nos discursos de mulheres e homens tendo como referência o espaço da cozinha doméstica. Este estudo foi estruturado à luz das ideias de Anne-Marie Devreux e Heleieth Saffioti, que contribuíram para os debates sobre relações sociais de sexo e patriarcado. Assume-se relações sociais de sexo em detrimento do termo “relações de gênero”, pois se entende que a primeira classificação social dos indivíduos, desde o momento do nascimento, está referenciada na dimensão do sexo.
As mulheres são oprimidas e dominadas em diferentes contextos não apenas por pertencerem a uma classe social, como o operariado, mas por estarem inclusas em uma categoria de sexo. Nesses termos, entende-se que a dominação simbólica e material, a opressão física e mental, e a dinâmica de exploração do trabalho entre as classes, em uma perspectiva marxista, sugerem que, antes de qualquer análise, os olhares estejam voltados para as relações sociais estabelecidas entre as classes de sexo. Homens e mulheres tendem a assumir e se posicionar em espaços específicos dentro desse sistema ainda vivo.
O método, indutivo, se baseou em um estudo qualitativo feito a partir de 17 entrevistas semiestruturadas individuais em profundidade com empregadas domésticas, donas de casa, patroas e patrões de Belo Horizonte, material tratado mediante a análise francesa do discurso. Foram identificados enunciados discursivos explícitos, implícitos e silenciados, análise lexical, interdiscursividade, reflexão e refração linguísticas e identificação de ideologias defendida e combatida nos fragmentos discursivos.
Os principais resultados confirmam que o patriarcado está de pé, sendo reproduzido no contexto da cozinha doméstica. Desde a infância se aprende, pela presença feminina e ausência masculina na cozinha, que cozinhar é “coisa de mulher”, algo do qual elas não podem fugir e, para se resignar, ressignificam como prazer, como afeto, como cuidar da família, silenciando sobre sua não-escolha - enquanto os homens podem escolher, cozinhar é verbo compulsoriamente feminino, associado à obrigação de casar, ratificando o “dom” feminino de servir.
As principais implicações do estudo, ao tempo que identificam permanências do patriarcado, alimentado no discurso masculino, bem como naturalizado pelas mulheres quando legitimam práticas que as subordinam, estrutural e simbolicamente. É fundamental questionar os contratos psicológicos e as dimensão da afetividade que vigoram nas relações sociais sexuais de sexo. O patriarcado (ainda) não morreu, e justo por isso precisamos problematizá-lo para enterrá-lo – de uma vez por todas.
DEVREUX, A. M. A teoria das relações sociais de sexo: um quadro de análise sobre a dominação masculina. Sociedade e Estado, Brasília, v. 20, n. 3, p. 561-584, 2005. PATEMAN, C. The sexual contract. Cambridge: Polity Press; Stanford University Press, 1988. PATEMAN, C. Garantir a cidadania das mulheres: A indiferença e outros obstáculos. Revista Crítica de Ciências Sociais, Coimbra, n. 89, p. 29-40, 2010. SAFFIOTI, H. I. B. A mulher na sociedade de classes. 3. ed. São Paulo: Expressão Popular, 2013. SAFFIOTI, H. I. B. Gênero, patriarcado, violência. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2004.