Resumo

Título do Artigo

RELAÇÕES DE GÊNERO EM ORGANIZAÇÕES DIRIGIDAS POR MULHERES: PODER OU VIOLÊNCIA SIMBÓLICA?
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Palavras Chave

gênero
Bourdieu
mulheres empreendedoras

Área

Estudos Organizacionais

Tema

Genero, Diversidade e Inclusão nas Organizações

Autores

Nome
1 - Evellyn Danielly Zabotti
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ (UNIOESTE) - Cascavel
2 - José Luiz Borsatto Junior
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ (UNIOESTE) - Cascavel/PR
3 - delci grapegia dal vesco
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ (UNIOESTE) - cascavel
4 - Silvana Anita Walter
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ (UNIOESTE) - Marechal Cândido Rondon

Reumo

As desigualdades de gênero derivam das diversas práticas sociais e da construção social dos corpos, conforme aponta Bourdieu (1999). No contexto organizacional não é diferente. Como parte da sociedade, diversas assimetrias existem nas relações de gênero típicas de empresas. A relação binária masculino-feminino configura-se como uma visão parcial das relações de gênero. Assim, o referencial analítico de Bourdieu (1989) mostra-se adequado para se analisar as relações de gênero e poder no contexto organizacional, pois contempla as relações entre o meio social, as formas de poder e os indivíduos.
A perspectiva binária que atribui mais poder aos homens os privilegiam no campo organizacional em detrimento das mulheres. Tal situação é legitimada pelo habitus, que eleva o poder dos homens (os dominantes) e reduz o poder das mulheres. A desigualdade de gênero é tida como ordem social, e o dominante busca, continuamente, manter a posição privilegiada no campo (BOURDIEU, 1999). Objetivou-se compreender as relações de gênero sob a perspectiva bourdiesiana de poder ou violência simbólica em empresas dirigidas por mulheres associadas ao núcleo da mulher em uma associação comercial e industrial.
Essencialmente, o referencial analítico de Bourdieu integra a teoria da estrutura social (o campo), a teoria das relações de poder (as várias formas de capital) e a teoria do indivíduo (habitus) (DOBBIN, 2008). Gênero não é definido pelo biológico, mas sim pelas diversas práticas sociais incutidas no meio social Os homens estão mais bem posicionados no campo organizacional, conforme a perspectiva dualística que atribui mais capital aos homens nas empresas. Entende-se que o habitus¸ que remete às práticas sociais, eleva o estoque de capital dos homens e precariza o capital das mulheres.
Empregou-se abordagem qualitativa de pesquisa. Tem-se como objeto de estudo as empresas filiadas a uma associação comercial e industrial localizada no estado do Paraná, vinculadas ao núcleo multisetorial da mulher. Adotaram-se as seguintes estratégias de pesquisa: a) observação participante em reuniões; b) pesquisa documental; e c) entrevistas semiestruturadas. Utilizou-se o referencial analítico de Bourdieu (1989) e o modelo de análise do discurso de Sherrard (1991) para a análise dos dados. Empregou-se o software Atlas.ti 7 para a operacionalização da análise.
A divisão sexual do trabalho implícita no habitus caracteriza o campo empresarial como principalmente masculino. Os homens possuem capitais social e cultural maiores e ocupam posições privilegiadas no campo. As mulheres postergam as atividades empresariais em prioridade aos cuidados com os filhos e afazeres domésticos. Isso diminui seu poder simbólico exclusivamente em função do gênero. Para a superação das limitações do pleno exercício de poder, adotam algumas estratégias de subversão: preferência por contratação de mulheres e a prática de violência simbólica contra funcionários homens.
Conclui-se que as mulheres, embora dominantes do campo, sofrem diversas formas de violência simbólica relacionadas a gênero e, para subverte-las, exercem o mesmo tipo de violência. Percebe-se uma postergação da busca dos capitais social e capital; as mulheres empresárias realizam tal busca apenas após os filhos atingirem uma certa idade – no núcleo da mulher. Em contrapartida, os homens empresários iniciam tal busca antes das mulheres; portanto, tornam-se privilegiados e detentores de maior capital. Consequentemente, possuem mais poder e distinguem-se como dominantes acima das empresárias.
BOURDIEU, P. A dominação masculina. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999. 159 p. BOURDIEU, P. O poder simbólico. 1989. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989. 315 p. DOBBIN, F. The poverty of organizational theory: Comment on: “Bourdieu and organizational analysis”. Theory and Society, v. 37, n. 1, p. 53-63, 2008. SHERRARD, C. Developing discourse analysis. The Journal of General Psychology, v. 118, n. 2, p. 171-179, 1991.