Resumo

Título do Artigo

EMPREENDEDORISMO NEGRO E RESISTÊNCIA: desafios e oportunidades da construção social da identidade negra
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Palavras Chave

Colonialidade
Identidade Negra
Empreendedorismo

Área

Estudos Organizacionais

Tema

Genero, Diversidade e Inclusão nas Organizações

Autores

Nome
1 - Ana Flávia Rezende
UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO (UFOP) - ICSA
2 - Flávia Luciana Naves Mafra
UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS (UFLA) - DAE
3 - JUSSARA JÉSSICA PEREIRA
ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE SÃO PAULO (FGV-EAESP) - Curso de Doutorado da Escola de Administração de Empresas de São Paulo

Reumo

A trajetória dos negros no Brasil é marcada por desigualdade social e preconceito, que advêm de uma construção histórica e cultural, na qual eles foram escravizados e tiveram sua cultura, identidade e traços fenotípicos tratados como inferiores em comparação aos brancos. Tais violências se consolidam e operam por meio da colonialidade. Na contramão da negação da identidade negra, nos últimos anos tem-se o fortalecimento de movimentos sociais e também de empreendimentos econômicos, como os salões étnicos, com forte caracterização racial, associados à construção de uma identidade étnica.
Tem-se a questão de pesquisa: como empreendedoras e empreendedores negros enfrentam uma lógica de colonialidade nas relações sociais, mediante criação de negócios que partem da valorização de uma identidade racial? Este trabalho busca compreender como empreendedoras e empreendedores negros, no ramo de salões de beleza especializados, resistem à lógica da subalternidade e contribuem para a construção da identidade racial.
Na perspectiva da colonialidade a desigualdade que deu suporte à colonização ainda está presente, uma vez que, de acordo com Quijano (2005) há uma construção mental que expressa à experiência básica da dominação colonial e que desde então permeia as dimensões mais importantes do poder mundial. Os salões de beleza étnicos podem ser observados como um contra movimento ao padrão de beleza hegemônico ocidental, uma vez que ao se apregoarem como divulgadores de uma auto-imagem positiva do negro em uma sociedade racista, eles se colocam no cerne de uma luta política e ideológica (GOMES, 2002).
Pesquisa descritiva e explanatória, de caráter qualitativo. A mesma foi realizada em cinco salões de beleza étnicos, localizados na cidade de Belo Horizonte. Os sujeitos do estudo foram 5 empreendedores. Utilizou-se de entrevistas de história oral e observações para desenvolver a compreensão da questão de pesquisa a que se propôs.Os dados obtidos foram analisados por meio do método Análise de Narrativa haja vista que através das narrativas, de acordo com Bastos e Andrade Biar (2015), os sujeitos conseguem expressar experiências de vida a partir da construção de sentido sobre si mesmos.
Percebe-se uma luta pela aceitação do cabelo afro que reflete em uma maior aceitação racial. A inferiorizarão do corpo negro foi a ferramenta usada pelo regime escravocrata para justificar a coisificação do homem africano, processo no qual foi-lhe dado o status pejorativo de homem negro. Nessa conjuntura os sinais mais externos do corpo negro, que se contrapõem aos sinais mais externos do corpo branco, foram utilizados como justificativa para a concepção de um padrão de beleza que persegue esse grupo étnico-racial até os dias de atuais.
Existem relações circulares na questão da resistência à colonialidade, que se repetem e que precisam ser enfrentadas constantemente. Ter um negócio eminentemente afro não protege os seus donos e clientes de práticas e ações preconceituosas e racistas. Porém, na busca pela sobrevivência, os negros sempre encontraram formas de resistir. No contexto desse trabalho, a forma mais intensa de resistir se consolida a partir da criação de um empreendimento que só por se assumir étnico, ou seja, voltados para um grupo socialmente excluído, já exerce um papel crucial dentro da comunidade negra.
FANON, F. Pele negra, máscarasbrancas. Tradução de Renato Silveira. SciELObooks-EDUFBA, 2008 JOHNSON, T. A.; BANKHEAD, T. Hair it is: Examining the experiences of Black women with natural hair. Open Journalof Social Sciences, v. 2014, 2013. QUIJANO, A. Colonialidaddel poder, cultura y conocimientoen América Latina. Dispositio, v. 24, n. 51, p. 137-148, 1999 SAID, E. W. Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente. Tradução de Rosana Eichenberg. Editora Companhia das Letras, 2007.