Coaching Evangélico
Pop-Management
Novo Espírito do Capitalismo,
Área
Estudos Organizacionais
Tema
Simbolismos, Culturas e Identidades
Autores
Nome
1 - Matheus Vitor Pereira de Abreu UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS (UNIMONTES) - Montes Claros
2 - Felipe Fróes Couto UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS (UNIMONTES) - (PPGDEE-UNIMONTES)/ (PPGDS-UNIMONTES)
3 - Alexandre de Pádua Carrieri UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS (UFMG) - Faculdade de Ciências Econômicas
Reumo
Como preceito fundamental do neoliberalismo, figura-se a ideia de responsabilização dos indivíduos por todo e qualquer (in)sucesso em seu caminho, isto é, a sorte ou revés independem das variáveis do ambiente, mas da ação dos indivíduos (Duarte; Medeiros, 2016). Essa e outras falácias reverberadas no cenário do novo espírito do capitalismo tornam o campo propenso a introdução de práticas de pop-management, que a seu turno funcionam como estimuladoras do engajamento dos indivíduos. Este trabalho propõe investigar este fenômeno ao lançar um olhar sobre o coaching evangélico.
Percebe-se uma lacuna na literatura sobre a relação entre o novo espírito do capitalismo, marcado pela ascética protestante, e as práticas derivadas da indústria do management, especificamente em relação à produção de conteúdo pop (Wood Jr.; Paula, 2003). Este trabalho visa suprir esta lacuna respondendo ao seguinte problema de pesquisa: de que forma os discursos de coaches evangélicos reproduzem violências simbólicas derivadas da interseção entre o novo espírito do capitalismo e as dinâmicas de pop-management?
Inseridos numa nova modalidade de interpretação dos valores do trabalho, as pessoas têm enfrentado os desafios de um capitalismo dinâmico, mutante, que precariza condições de trabalho e exige porções de flexibilidade e dedicação nunca vivenciados na história. Dentro dessa estrutura, conceituada por Boltanski e Chiapello (2009) como novo espírito do capitalismo, estes indivíduos são submetidos a empreitadas de controle que ultrapassam a esfera dos seus corpos físicos e compenetram a esfera psicológica.
Para atender ao objetivo do estudo, a pesquisa foi conduzida mediante uma análise do discurso pautada na abordagem sociocognitiva de Teun A. Van Dijk (2015). A abordagem desenvolvida pelo autor é caracterizada pelo triângulo Discurso-Cognição-Sociedade, por meio do qual advoga-se a tese de que as relações entre o discurso e a sociedade são mediadas pela cognição, isto é, pelas representações mentais dos usuários da linguagem, tanto como indivíduos quanto como membros da sociedade.
Os coaches, ao assumirem a prerrogativa de “socorrer” os indivíduos, acabam por engendrar seus seguidores em um cenário de incertezas e instabilidades. Este cenário circunscreve a precarização do trabalho e da vida, o advento do management e a defesa de práticas neoliberais e utilitaristas. Esse discurso não só desvia a responsabilidade para o indivíduo, mas também perpetua um ciclo de pressão e sacrifício pessoal, onde os seguidores são incentivados a comprometer seu bem-estar em busca de resultados econômicos e pessoais incertos que, em última instância, acarretam depressão.
Ao longo deste trabalho, foi possível identificar que os coaches evangélicos Tiago Brunet e Pablo Marçal reproduzem violências simbólicas abordadas nos estudos de Boltanski e Chiapello (2009) sobre o novo espírito do capitalismo, por meio das práticas de pop-management. É essencial salvaguardar os indivíduos da adoção descomedida desses discursos, promovendo uma visão crítica que desafie as narrativas neoliberais, gerencialistas e utilitaristas que responsabilizam exclusivamente o indivíduo pelo sucesso ou fracasso, ignorando as complexas realidades sistêmicas e estruturais.
BOLTANSKI, Luc; CHIAPELLO, Ève. O novo espírito do capitalismo. WMF Martins Fontes, 2009.
COUTO, F. F.; CARRIERI, A. P. . A Abordagem Sociocognitiva: Da Teoria à Prática. In: Luiz Alex Silva Saraiva; Gergiana Luna Batinga. (Org.). Discursos e Organizações. 1ed.Porto Alegre, RS: Editora Fi, 2022a, v. 1, p. 150-177.
FRANZ, Alice Hübner; COELHO, Gabriel Bandeira. O novo espírito do capitalismo e a construção da universidade empreendedora no contexto brasileiro. Simbiótica. Revista Eletrônica, v. 7, n. 3, jul.-dez., p. 279-297, 2020.