Resumo

Título do Artigo

Papa é Mike: As Preferências Dicotômicas de Policiais Militares e os Desafios na Avaliação do Policiamento Comunitário
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Palavras Chave

Polícia Comunitária
Cultura Policial
Canções Militares

Área

Estudos Organizacionais

Tema

Simbolismos, Culturas e Identidades

Autores

Nome
1 - Daniel Victor de Sousa Ferreira
UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA (UFU) - Faculdade de Gestão e Negócios (Fagen/UFU)
2 - CINTIA RODRIGUES DE OLIVEIRA
UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA (UFU) - FAGEN
3 - Luciano Rossoni
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA (UNB) - FACE PPGA

Reumo

A cultura policial militar no Brasil mostra uma preferência histórica por ações repressivas ligadas a morte, ainda que os pressupostos da Polícia Comunitária ganhem destaque no ambiente democrático atual, incentivando práticas policiais que possam responder aos anseios por participação social e cidadania. Incidentes como o Massacre do Carandiru e canções militares que exaltam a morte revelam a dualidade entre as abordagens repressiva e preventiva na formação e atuação dos policiais militares.
Nos cursos de formação policial militar, há uma preferência dos alunos por atividades repressivas relacionadas à morte. Essas aspirações são compreensíveis, considerando as expectativas tradicionais associadas à função policial, construída pela própria sociedade. Além disso, atividades repressivas são mais facilmente mensuradas do que as preventivas, estas mais ligadas ao longo prazo e a qualidade de vida. A partir dessas considerações, o objetivo deste artigo é compreender como são constituídas as preferências de policiais militares por atividades repressivas relacionadas à morte.
A pesquisa se baseia no modelo do processo dual da cultura em ação de Vaisey (2009). A legitimidade e a polícia comunitária brasileira é revisada para contextualizar a formação e atuação dos policiais militares no Brasil. A formação, imagem e identidade profissional dos policiais militares brasileiros mostram que as dificuldades na implementação do policiamento comunitário estão relacionadas à valorização dos aspectos repressivos do policiamento tradicional, como apontado por alguns autores (Muniz et al., 2018; Poncioni, 2005).
Adotou-se uma abordagem etnográfica multissituada, observando policiais militares em diversas cidades de Tocantins e Minas Gerais. Para tanto, realizamos uma triangulação na fonte de coleta dos dados para analisar reportagens sobre as polícias militares brasileiras veiculadas na internet e na grande mídia. Essas notícias foram confrontadas com os artefatos culturais encontrados nos quarteis durante a etnografia, incluindo as fotos e a linguagem (jargões e canções).
Os dados mostram que a cultura militar exalta ações repressivas e valoriza a relação com a morte, reforçadas por canções e cerimônias. A implementação do policiamento comunitário enfrenta desafios devido essa preferência, vistas como heroicas e recompensadoras. A cultura militar e a dualidade entre prevenção e repressão moldam as preferências e práticas dos policiais militares. Analisamos a utilidade do medo, as recompensas do trabalho policial e o gerencialismo, mostrando que essas preferências são constituídas por manifestações culturais e artefatos.
Reformas nas práticas policiais precisam considerar mudanças culturais para valorizar ações preventivas e promover melhorias nas políticas públicas de segurança. A preferência por atividades repressivas relacionadas à morte é influenciada pela valorização histórica de eventos extremos, apesar das claras tendências na literatura que advogam por reformas nas práticas policiais. Em resposta ao ambiente democrático, policiais são orientados a valorizar a cidadania e os pressupostos da Polícia Comunitária, no entanto, as canções militares revelam as falhas dessas tentativas.
Muniz, J., Caruso, H., & Freitas, F. (2018). Os estudos policiais nas ciências sociais: um balanço sobre a produção brasileira a partir dos anos 2000. Revista Brasileira de Informação Bibliográfica Em Ciências Sociais, 84, 148–187. Poncioni, P. (2005). O modelo profissional policial e a formação profissional do futuro policial nas academias de Polícia do Estado do Rio de Janeiro. Sociedade e Estado, 20(3), 585–610. Vaisey, S. (2009). Motivation and justification: A dual-process model of culture in action. American Journal of Sociology, 114(6), 1675–1715.