Resumo

O recente debate acerca das questões ESG no âmbito corporativo tem sido impulsionado pela crescente conscientização internacional sobre a agenda de sustentabilidade (Zairis et al., 2024), em que a pressão de formuladores de políticas, investidores e partes interessadas vem impactando as atitudes das empresas em relação à sua performance ESG (Aldowaish et al., 2022). Consequentemente, torna-se relevante realizar estudos que investiguem os fatores que exercem influência na performance ESG das companhias (Crace & Gehman, 2022; Martiny et al., 2024).

No contexto brasileiro, estudos demonstram que características do conselho de administração (Ferreira et al., 2023), estrutura de capital (Campos-Rasera et al., 2023) e estágios de ciclo de vida (Moreira et al., 2023) são fatores associados à performance ESG das companhias abertas. No entanto, uma lacuna que ainda permanece na literatura é se (e como) o monitoramento de analistas influencia na performance ESG. Diante disso, visando preencher essa lacuna, o presente estudo tem como objetivo investigar o papel do monitoramento de analistas na performance ESG de companhias abertas brasileiras.

Com o crescente peso atribuído pelos investidores à performance ESG nas decisões de investimento, os analistas têm dado maior ênfase à avaliação da performance ESG das companhias (Zhang & Wu, 2023). Nesse sentido, ao realizar visitas às empresas, interagir diretamente com a administração para obter informações e acompanhar regularmente as demonstrações financeiras das empresas (Yang et al., 2021), espera-se que o monitoramento de analistas, enquanto mecanismo externo de governança corporativa, promova o aumento da performance ESG das companhias.

Foram estimadas regressões com dados em painel ao longo do período 2010-2022, sendo a amostra final composta por 136 companhias abertas brasileiras. Em linha com o estudo de Zhang e Wu (2023), utilizou-se a quantidade total de analistas que cobrem a companhia como métrica para monitoramento dos analistas. Já a performance ESG foi obtida a partir dos indicadores disponibilizados pela Refinitiv Eikon. Como forma de robustez, foram estimadas regressões por meio do método generalizado dos momentos (GMM) visando contornar a possível endogenia entre o monitoramento de analistas e a performance ESG.

Os principais resultados indicam que o monitoramento de analistas está positivamente associado à performance ESG das empresas. Análises adicionais demonstram que, no contexto brasileiro, o efeito do monitoramento de analistas diverge entre cada um dos pilares ESG, uma vez que o monitoramento de analistas exerce influência significativa no pilar de governança corporativa, mas não nos pilares individuais de performance ambiental e social. Por fim, os resultados do teste de robustez indicam que esses achados permanecem consistentes mesmo quando mitigados os problemas de endogeneidade.

Conclui-se que o monitoramento dos analistas pode ser considerado um eficaz mecanismo externo de governança corporativa no contexto brasileiro, capaz de otimizar a performance ESG das companhias abertas, especialmente na dimensão de governança corporativa. Este achado pode ser explicado pelo fato de que os analistas tendem a emitir recomendações favoráveis para empresas com melhores mecanismos de governança corporativa.

Martiny, A., Taglialatela, J., Testa, F., & Iraldo, F. (2024). Determinants of environmental social and governance (ESG) performance: A systematic literature review. Journal of Cleaner Production, 456, 142213. Yang, J., Wang, R., & Xue, Y. (2021). Analyst coverage and corporate misconduct. Australian Economic Papers, 60(2), 261-288. Zhang, C., & Wu, X. (2023). Analyst Coverage and Corporate ESG Performance. Sustainability, 15(17), 12763.