1 - Isac de Freitas Brandão INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO CEARÁ (IFCE) - Campus Baturité
Reumo
A pandemia de covid-19 desencadeou uma crise econômica global, impactando o desempenho econômico financeiro das empresas. No Brasil, a economia esteve em recessão entre o segundo trimestre de 2020 e o segundo trimestre de 2021, voltando ao patamar anterior à pandemia em meados de 2022. Dentre os fatores que podem mitigar os efeitos financeiros da crise ocasionada pela pandemia de covid-19 está o sistema interno de governança corporativa da empresa. Um adequado sistema interno de governança corporativa pode contribuir com a redução dos efeitos financeiros adversos da crise econômica.
O trabalho foi desenvolvido a partir da seguinte pergunta de pesquisa: Qual o efeito da governança corporativa sobre o desempenho financeiro das empresas brasileiras durante a pandemia de covid-19? O objetivo da pesquisa foi analisar a relação entre governança corporativa e desempenho financeiro das empresas brasileiras durante a pandemia de covid-19. Especificamente, analisou-se a evolução das principais dimensões do desempenho financeiro das empresas brasileiras durante a pandemia e sua relação com a adoção de práticas de governança corporativa.
A eficácia da governança corporativa, no contexto da Teoria da Agência, está relacionada à redução dos conflitos de agência, o que é tido como capaz levar a empresa a um desempenho financeiro superior (Claessens & Yurtoglu, 2013; Dey, 2008). Diante da crise econômica de covid-19, portanto, é esperado que a adoção de práticas de governação corporativa torne a empresa mais resiliente e menos suscetível a fraudes corporativas, reduzindo os efeitos adversos sobre o desempenho financeiro (Matuella et al., 2023; Musa et al., 2022).
A amostra foi composta por 126 empresas listadas na B3 no período 2019-2022. Por meio de análise de componentes principais foram identificados indicadores que representam as dimensões do desempenho financeiro. A governança corporativa foi mensurada por meio de dois índices, baseados em recomendações do mercado e da academia. Através de testes de diferença de média foi avaliada a evolução dos indicadores financeiros e dos índices de governança corporativa durante a pandemia. Por meio de análise de regressão foi investigada a relação entre desempenho financeiro governança corporativa.
Oito dimensões explicam o desempenho financeiro, relativas a indicadores de liquidez (1), endividamento (2), atividade (2), rentabilidade (1) e mercado (2). Durante o período pandêmico observou-se alteração em seis dimensões do desempenho financeiro e crescimento dos índices de governança corporativa. Em 2020 os índices de governança corporativa apresentaram relação com endividamento de curto prazo (positiva) e retorno sobre patrimônio líquido (negativa). Em 2021, por outro lado, observou-se relação negativa entre os índices de governança corporativa e market-to-book.
O período pandêmico afetou todas áreas do desempenho financeiro e houve neste período aprimoramento do sistema interno de governança corporativa das empresas brasileiras. A adoção de práticas de governança corporativa pode ter contribuído para elevar o acesso à dívida pelas empresas brasileiras e combater a miopia gerencial de curto prazo no período mais crítico da pandemia. Entretanto, levanta-se questionamentos acerca da eficácia da adoção dessas práticas em mitigar negativos de crises econômicas sobre a percepção de valor das empresas brasileiras no mercado de capitais.
Claessens, S., & Yurtoglu, B. B. (2013). Corporate governance in emerging markets: A survey. Emerging Markets Review, 15, 1-33.
Dey, A. (2008). Corporate governance and agency conflicts. Journal of Accounting Research, 46(5), 1143–1181.
Matuella Filho, I., & Miranda, C. S., & Rodrigues, J. M. (2023). Covid-19: uma janela para fraudes corporativas. GV-EXECUTIVO, 22(1).
Musa, H., Rech, F., Chen, Y., & Musova, Z. (2022). The deterioration of financial ratios during the Covid-19 pandemic: Does corporate governance matter? Folia Oeconomica Stetinensia, 22(1), 219-242.