1 - Joélio Farias Maia UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS (UFPEL) - Programa de Pós-Graduação em Sistemas de Produção Agrícola Familiar - SPAF
2 - Mitali Daian Alves Maciel UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS (UNICAMP) - Instituto de Economia
3 - ALESSANDRA TROIAN FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PAMPA - UNIPAMPA (UNIPAMPA) - Santana do Livramento
Reumo
O estudo trata sobre o Pampa Gaúcho, a partir de seus atributos materiais e imateriais, os quais consolidam o território e revelam um modo de vida particular diante da relação homem-natureza. Todavia, o Pampa Gaúcho é palco de diversas transformações, causadas pincipalmente pela inserção da agricultura moderna com produção de commodities, a qual desconsidera aspectos sociais, ambientais e econômicos do território. Nesse contexto, apresenta-se a agricultura e a pecuária familiar agroecológica, categorias sociais que possuem potencialidades de promoção do desenvolvimento territorial.
A conjuntura, a partir do advento da modernização agrícola, apresenta-se como ameaça ao desenvolvimento territorial do Pampa Gaúcho, dado que desconsidera as potencialidades existentes e únicas desse espaço de vida. Assim, tendo em conta o contexto de alterações, modificações e transformações as quais o território está enfrentando, o presente estudo tem o objetivo analisar as perspectivas de agricultores e pecuaristas familiares agroecológicos sobre transformações no território Pampa Gaúcho, a partir do processo de modernização da agricultura.
A perspectiva do desenvolvimento territorial está relacionada ao território como forma de melhor explorar as potencialidades locais e a conservação dos recursos naturais para alcance e utilização pela sociedade (Saquet, 2011). Maia e Troian (2022), assumem que o Pampa Gaúcho é um território, posto que nele se encontram todos os elementos que corroboram ao conceito, sejam eles tangíveis e intangíveis, onde práticas sustentáveis oportunizam novas formas de pensar a produção agrícola e pecuária, visando a promoção do desenvolvimento territorial no Pampa Gaúcho, o qual sofre com transformações.
A pesquisa possui abordagem qualitativa e caráter descritivo, realizada através de um estudo de caso. Foram entrevistados onze agricultores e pecuaristas familiares agroecológicos, entre os meses de outubro de 2021 e fevereiro de 2022, bem como empregada a observação não participante nas unidades familiares de produção. O tratamento dos dados se deu através da análise de conteúdo. As unidades familiares dos entrevistados estão localizadas na Região da Campanha, Rio Grande do Sul, nos municípios de Bagé, Dom Pedrito, Hulha Negra, Lavras do Sul, Quaraí, Rosário do Sul e Santana do Livramento.
Os resultados revelam que para agricultores e pecuaristas familiares as transformações no Pampa Gaúcho, tendo em vista a inserção da modernização da agricultura, causam efeitos negativos ao território. No que tange aos agricultores familiares, os efeitos percebidos estão relacionados às questões físicas do Pampa, em específico aos aspectos produtivos disponíveis no território. Já para os pecuaristas familiares, além de causar efeitos nas questões físicas, a modernização da agricultura causa impacto negativo no modo de vida do Pampa Gaúcho, incluindo questões sociais, econômicas e culturais.
A agropecuária familiar, justamente pelo modo de vida atrelado ao território, ocupação e uso dos atributos materiais e imateriais disponíveis, apresenta-se como uma importante estratégia para a promoção do desenvolvimento territorial do Pampa Gaúcho, tão degradado e transformado atualmente. Foi possível perceber que a contribuição da produção familiar agroecológica para a sustentabilidade do Pampa tem relevância significativa como prática agrícola, pecuária, social, econômica e ambiental.
MAIA, J. F.; TROIAN, A. O Pampa Gaúcho: fatores materiais e imateriais na consolidação do território. Revista Grifos, Chapecó, v. 31, n. 57, p. 01-19, 2022. DOI: http://dx.doi.org/10.22295/grifos.v31i57.6722
SAQUET, M. A. O desenvolvimento numa perspectiva territorial, multidimensional e democrática. RESGATE: Revista Interdisciplinar de Cultura, Campinas, v. 19, n. 21, p. 5-15, Jan/jun., 2011. DOI: https://doi.org/10.20396/resgate.v19i21.8645701