Memória Coletiva, Movimentos Sociais e Direitos Humanos
Autores
Nome
1 - Lusvanio Carlos Teixeira UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA (UFV) - Viçosa
2 - José Roberto Abreu de Carvalho Junior INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO ESPÍRITO SANTO (IFES) - Alegre
3 - Valter Cardoso da Silva UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA (UEL) - Londrina
Reumo
O presente artigo se debruça sobre a análise das desinformações elencadas do Relatório da CPI da Pandemia de Covid-19. O termo fake news, sinônimo de desinformação, se tornou popularmente conhecido em âmbito mundial. Durante a pandemia, a disseminação de fake news referentes à COVID-19 cresceu consideravelmente em todo o mundo, com a propagação ocorrendo principalmente por meio de mídias sociais. A divulgação de desinformações é uma problemática que se intensifica nos contextos de polarização por permitir que os indivíduos utilizem argumentos falaciosos para sustentar suas ideologias.
No relatório da CPI da Pandemia, é desvelada uma estrutura de divulgação de notícias falsas, principalmente por atores com algum envolvimento com o governo federal naquele momento. Tratava-se de uma estratégia discursiva utilizada por membros do governo para transmitir uma ideia de que não era necessário “parar” o país devido à pandemia para continuar movimentando a economia. Nesse cenário, o objetivo do artigo foi investigar os tipos de desinformações divulgadas pela cúpula do governo federal durante o período pandêmico, tratando as fake news como formas de ação estratégica latente.
Para a análise dos elementos discursivos presentes no Relatório da CPI da Pandemia, partimos da lente analítica do pensamento de Habermas (1996, 2012a, 2012b) acerca do uso estratégico da comunicação para o alcance de determinados fins, vislumbrando indicar a forma como as distorções comunicativas atrapalham o processo comunicativo e as instituições democráticas. A apresentação do olhar pragmático dos preceitos habermasianos sobre esse processo possibilita gerar lentes para compreender os pormenores gerados pelas fake news no processo comunicativo.
Essa é uma pesquisa de abordagem estritamente qualitativa. A principal fonte de dados foi o Relatório da CPI da Pandemia. Esta pesquisa se caracterizou como descritiva por buscar descrever e fazer uma leitura das fake news por um enfoque habermasiano. Para analisar essas informações, utilizou-se inicialmente a análise documental do Relatório da CPI da Pandemia, considerando as peculiaridades presentes neste documento. Posteriormente, utilizou-se a Análise de Conteúdo para estruturar as informações escritas, de modo a efetuar uma organização dos conteúdos a partir de categorias prévias.
Em um cenário de propagação de fake news ocorrido durante o Governo Bolsonaro, salienta-se que essa não teve o caráter de propiciar um debate democrático em torno da pandemia. Pelo contrário, essa disseminação se deu estrategicamente para transmitir à sociedade um falso conteúdo que atendia aos interesses de apenas um grupo da população, quais sejam, o próprio Governo Bolsonaro e seus apoiadores. Nesse ponto, sintetiza-se que as fake news desse período representam uma forma de ação estratégica latente, que vislumbrava manipular a população por formas de comunicação sistematicamente distorcida.
Os resultados revelam inúmeras estratégias de disseminação da desinformação pelo governo federal em relação à pandemia de covid-19, sustentadas principalmente através da força e alcance que a ação comunicativa que um líder de Estado possui frente à sua população, especialmente em um cenário de negacionismo científico. A categorização do conjunto de fake news da pandemia revela um cenário em que desinformações de diversos tipos dificultaram a compreensão correta sobre a gravidade e sobre como lidar com a crise sanitária daquele período, influenciando a formação da opinião pública.
HABERMAS, J. Teoria do Agir Comunicativo: racionalidade da ação e racionalidade social. Vol. I. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2012a.
HABERMAS, J. Teoria do Agir Comunicativo: racionalidade da ação e racionalidade social. Vol. II. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2012b.
HABERMAS, J. Racionalidade e Comunicação. Lisboa: Edições 70, 1996.