Resumo

Existe um número considerável de estudos sobre identidade empreendedora (I.E), mas poucos sobre a identidade da mulher que empreende. Estudos enfatizam que a I.E. é composta por duas dimensões: quem é o sujeito que empreende e o que ele faz como empreendedor. Porém, esse conceito é tratado de forma genérica quanto ao gênero. As empreendedoras passam por especificidades oriundas do gênero no seu processo empreendedor. Isso interfere na sua autodefinição sobre “quem é ela” e nas suas condições de fazer o “que ela faz”. Assim, investigamos a questão do gênero na formação da I.E.

Dado que o empreendedorismo feminino promove o desenvolvimento econômico e social, principalmente em economias em desenvolvimento, é imperativo que os estudos sobre identidade investiguem a influência do gênero na sua formação, porque a Identidade é um elemento fundamental ao comportamento empreendedor. O objetivo desta pesquisa é eliminar essa lacuna por meio de seu problema, que é descobrir se existe uma caracterização específica do feminino na formação da I.E da mulher.

Identidade: coleção de atributos subjetivos que os indivíduos atribuem a si mesmos. I. E. trata sobre quem é, o que faz e o que a sociedade espera de empreendedores. I.E. é construída socialmente, mas existe um processo reflexivo para moldar quem são e o que fazem às necessidades internas e externas. Gênero e I.E. se entrelaçam: papéis sociais x percepção social do empreendedorismo: masculino e masculinizado. Descobrimos que, I.E., não é apenas um reflexo de escolhas individuais, mas, também um produto de discursos e práticas sociais e culturais que se acomodam no mundo dos negócios.

De natureza exploratória e descritiva, é uma pesquisa qualitativa, realizada com empreendedoras vencedoras do Prêmio Sebrae Mulher de Negócios- 2023. Utilizou-se roteiro semiestruturado, a fim de identificar relatos de experiências da vida familiar e empreendedora para compreender e descobrir quais elementos da subjetividade de gênero compõe a I.E. O corpus textual foi analisado pelo seu conteúdo, a partir das categorias Gênero e Atributos da Identidade e seus códigos.

Descobriu-se que a questão do gênero é transversal no processo empreendedor da mulher. Que a subjetividade do gênero é relevante na formação da I.E. porque é percebida ao compartilhar experiências nos grupos de apoio. Neles, ela reconhece um jeito único de ser e fazer empreendedorismo. O Como Faço se configura outro driver formativo da I.E, específico do feminino. A I.E. da mulher é construída e fortalecida no coletivo. Essa força pode permitir a construção de contradiscurso para combater a percepção social do empreendedorismo masculinizado e o preconceito de gênero que afeta seus negócios.

Esse estudo avançou na compreensão sobre a I. E. da mulher. Vimos que o gênero parece ser capaz de afastar as mulheres do empreendedorismo devido aos preconceitos a ele associados. Por outro lado, identificamos que a subjetividade do gênero influencia positivamente à identidade empreendedora da mulher pelo fortalecimento das suas características próprias que a diferencia do empreendedor. Nossas descobertas apontam que a participação em redes de apoio ao empreendedorismo e as práticas coletivas de mulheres podem instituir e fortalecer uma percepção feminina ao empreendedorismo.

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