Resumo

As pessoas e o seu bem-estar no contexto de trabalho vêm adquirindo uma importância crescente no contexto organizacional. Com isso, a área de gestão de pessoas passa a ser responsável por promover o bem-estar de seus trabalhadores por meio de suas lideranças. Contudo, não foram encontradas, na literatura, pesquisas que investiguem a relação entre a qualidade da relação líder-membros e o bem-estar no trabalho, com base na perspectiva que une os componentes hedônicos e eudaimônicos do bem-estar, especialmente no contexto do serviço público.

O presente estudo apresentou o seguinte problema de pesquisa: a qualidade da relação líder-membros influencia o bem-estar no trabalho no contexto do serviço público? Assim, o principal objetivo desta pesquisa foi descrever, por meio do teste de um modelo estrutural, a relação entre a qualidade das relações líder-membros e o bem-estar no trabalho, no contexto do serviço público e a partir do quadro conceitual que une as perspectivas hedônica e eudaimônica do bem-estar. Ademais, testou-se os modelos de mensuração das variáveis da pesquisa.

A presente pesquisa aborda os fenômenos do bem-estar no trabalho e da qualidade da relação líder-membros. Enquanto o bem-estar no trabalho é vivenciado quando os afetos positivos no ambiente laboral superam os afetos negativos e os colaboradores experimentam realização pessoal (Demo & Paschoal, 2016), a qualidade da relação líder-membros tem como base a compreensão de que as relações são construídas a partir das características e condutas dos líderes e membros, com foco nas relações de qualidade elevada, que trazem consequências positivas para os envolvidos (Côrtes et al., 2019).

Esta pesquisa, de caráter descritivo, exploratório, quantitativo e transversal, foi realizada em uma instituição de ensino superior. A população é composta por 3.000 técnico-administrativos e adotou-se a amostragem não probabilística e por conveniência. Para a coleta de dados, aplicou-se um questionário e o estudo obteve uma amostra final composta por 244 indivíduos, com um poder estatístico de 99%. A modelagem por equações estruturais foi empregada para analisar o ajuste do modelo estrutural proposto, bem como dos modelos de mensuração das variáveis, via análise fatorial confirmatória.

Os resultados demonstraram uma correlação significativa, positiva e forte (correlação = 0,54) entre as variáveis latentes Qualidade da Relação Líder-Membros e Bem-Estar no Trabalho (Cohen, 2016). Além disso, a partir da análise do coeficiente de determinação obtido, foi possível identificar que 30% do bem-estar no trabalho foi explicado pela qualidade da relação líder-membros, sendo considerada uma relação de predição de grande efeito (Cohen, 2016). Os modelos de mensuração, por sua vez, também apresentaram validade de construto (convergente, divergente e nomológica).

O objetivo dessa pesquisa foi atingido ao confirmar a influência da qualidade das relações líder-membros no bem-estar no trabalho dos servidores técnico-administrativos da instituição pesquisada. Os resultados apresentados nesse estudo abrem caminhos para novas pesquisas relacionadas ao tema, constituindo um avanço nos estudos nas áreas de gestão de pessoas e comportamento organizacional e lançando as bases para uma gestão de pessoas mais estratégica e humanizada.

Côrtes, M. G., Souza, M. G. S., & Puente-Palacios, K. E. (2019). Qualidade da Relação Líder-Membro: Evidências de Validade da Escala Multidimensional. Psico-USF, 24(3), 569-581. Demo, G., & Paschoal, T. (2016). Well-Being at Work Scale: Exploratory and Confirmatory Validation in the USA. Paidéia (Ribeirão Preto), 26(63), 35-43. Demo, G., Neiva, E.R., Coura, K.V., Gomide Jr, S., & Costa, A.C.R. (2022). Do Organizational Virtues Enhance Work Well-being? The Mediator Role of HRM Practices. Revista de Administração Contemporânea, 26(6), e-200144.