Dimensões e Contextos do Turismo e da Hospitalidade
Autores
Nome
1 - Beatriz Flexa Ribeiro Proença Gomes da Silva UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS (UFLA) - Lavras
2 - LEANDRO BENEDINI BRUSADIN UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ (UFPR) - Setor de Humanas - Departamento de Turismo
Reumo
Vista como um fenômeno complexo por si só, a hospitalidade é posta por Montandon (2011) como uma maneira de viver em conjunto, de estabelecer uma relação interpessoal regida por regras. Por isso, a análise sociológica da hospitalidade tem se tornado uma das principais correntes de estudos que reforça a interdisciplinaridade e multidisciplinaridade dos estudos da hospitalidade. Mais especificamente nos estudos organizacionais, a hospitalidade e a teoria da troca social (Blau, 1964) se cruzam de forma analítica no âmbito das dinâmicas de trocas.
Esta pesquisa tem como objetivo refletir sobre o papel das organizações de acolhimento à migrantes e refugiados de cunho religioso, na figura do Serviço Jesuíta ao Migrante e Refugiado em Belo Horizonte (MG). O estudo adota metodologicamente uma breve reflexão teórica, buscando utilizar-se de obras basilares no âmbito da hospitalidade e dos estudos organizacionais, bem como aplicação de entrevistas semiestruturadas e a observação participante.
Dessa forma, a hospitalidade não pode ser entendida de forma maniqueísta, pois está na intercessão subjetiva do que se considera bem e mal, na desconstrução de estereótipos e na abertura às diferenças. A hospitalidade é a abertura em um mundo fechado, no qual as pessoas consideram que ser fechado é a melhor opção no que tange à segurança, proteção material, física ou psicológica (MARCELINO; CAMARGO, 2017, p. 54). Assim, compreende-se a organização como um lugar de trocas e hospitalidade na intercessão entre acolher e hostilizar.
Para tanto, em relação à metodologia empregada, fez-se uma breve reflexão teórica, buscando utilizar-se de obras basilares no âmbito da hospitalidade e dos estudos organizacionais no intuito de traçar possíveis estudos interdisciplinares em ambas vertentes.
A coleta de dados inclui-se a observação participante de uma das autoras na organização SJMR em Belo Horizonte, e com entrevistas semiestruturadas realizadas no local com colaboradores por acessibilidade.
O SJMR-BH vai além de um lugar puramente assistencialista, transcende as paredes da instituição. Mesmo que numa relação de troca social, a confiança entre as partes é necessária porque existem alguns riscos inerentes de que os benefícios proporcionados não sejam retribuídos (Cotterell, Eisenberger e Speicher, 1992). Uma vez que a natureza e o momento desses benefícios não são específicos (Blau, 1964). Porém, nesse tipo de organização as motivações religiosas e altruístas mantém os funcionários motivados e acolhedores, apesar das barreiras linguísticas e burocráticas.
Os estudos de migração e refúgio, para além de melhorarem nossa compreensão das dinâmicas e dimensões sociais a partir da Teoria das Trocas Sociais, eles também mostram como as trocas de afetos, recursos e serviços são mediadas e negociadas em contextos de mobilidade humana e diversidade cultural sob a égide da Teoria da dádiva e a fenomenologia do acolhimento. A construção de sociedades mais inclusivas e robustas depende dessa interação constante entre vários grupos sociais.
BLAU, Peter M. Justice in social exchange. Sociological inquiry, v. 34, n. 2, 1964.
BRUSADIN, L. B. L’hospitalité aux immigrants et les frontières urbaines: du régime des échanges conditionnels de Mauss à l’hospitalité inconditionnelle de Derrida. Territórios e Fronteiras, v. 13, n. 2, p. 256-274, 2020a.
DE LIMA CAMARGO, Luiz Octávio. Os interstícios da hospitalidade. Revista hospitalidade, p. 42-69, 2015.
DERRIDA, J.; DUFOURMANTELLE, A. Da hospitalidade. Tradução de A. Romane. São Paulo: Escuta, 2003.
MAUSS, M. Ensaio sobre a dádiva. Lisboa: Edições 70, 2003.