Epistemologias e Ontologias em Estudos Organizacionais
Autores
Nome
1 - Leonardo Balbino Mascarenhas UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS (UFMG) - Faculdade de Ciências Econômicas (FACE/UFMG)
Reumo
O artigo examina a influência do pensamento nietezscheano nas perspectivas pós-estruturalistas, e como os conceitos do filósofo contribuem para a superação da crítica que aponta os estudos pós-estruturalistas como incompatíveis com a formulação de teorias da ação. Nesse sentido, a filosofia de Nietzsche oferece possibilidades de saída de posições pessimistas, conformistas e próximas da inércia em termos de ação social, sendo possível derivar programas de ação, desde que considerados a partir de uma constelação conceitual e ética específica.
Uma crítica frequente que é realizada aos intelectuais que adotam uma perspectiva epistemológica pós-estruturalista assenta-se em como esses pensadores enfatizam as abordagens micropolíticas e processuais da realidade, sem dar conta de formular teorias da ação e pensar uma incidência política pautada em ideais mais amplos. Nesse sentido, o objetivo do texto é analisar a pertinência dessa crítica, buscando compreender se ela se sustenta epistemologicamente.
O pós-estruturalismo pode ser caracterizado como uma perspectiva que rejeita a filosofia humanista, o sujeito fenomenológico e o primado da razão e da autonomia humana, bem como recusa premissas universalistas, essencialistas e uma concepção de verdade como correspondente à realidade. Por outro lado, apoia-se na afirmação de uma constituição discursiva, processual, descentrada e relacional do eu e da realidade, bem como a ênfase em processos singulares e nas relações de poder que atravessam os sujeitos e as instituições (PETERS, 2000; PAULA, 2008).
O pós-estruturalismo é bastante influenciado pela filosofia nietzscheana, notadamente pela sua crítica da verdade, e pelas noções de niilismo e vontade de potência. Esses conceitos constituem chaves importantes para compreendermos o ceticismo em relação às utopias e grandes narrativas de emancipação. No entanto, não se trata de uma dificuldade em formular teorias da ação, tal qual sugere Peters (2000), mas de uma recusa em operar um retorno metafísico, enfatizando a ação que efetua-se nos corpos e nas relações travadas no tempo presente.
A crença nas utopias e na revolução constituem uma forma de niilismo reativo, ao ensejar a negação do mundo tal qual ele se nos apresenta, e parece favorecer não a ação no mundo, mas a construção de ideais de ação. Assim, podemos dizer que as utopias carregam uma certa ambiguidade: constituem um horizonte ético e existencial necessário, mas também operam uma reconstrução metafísica, o outro lado da moeda platônica e cristã, e com isso podem acabar por dificultar a ação, em vez de facilitá-la, na medida em que o próprio ideal não precisa do corpo, e nem da história, para efetivar-se.
NIETZSCHE, Friedrich. Fragmentos póstumos. Novembro de1887 – Março de 1888. Estudos Nietzsche, Espírito Santo, v. 12, n. 1, p.125-149, jan./jun. 2021. Disponível em: . Acesso em 14 jun. 2024.
PAULA, Ana Paula Paes. Teoria crítica nas organizações. São Paulo: Thomson Learning, 2008.
PELBART, Peter Pál. O Avesso do Niilismo: cartografias do esgotamento (edição bilingue). São Paulo: N-1 Edições, 2013.
PETERS, Michael. Pós-estruturalismo e filosofia da diferença. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.