Resumo

A mineração é vital para o desenvolvimento econômico global, especialmente no Brasil, onde fornece matérias-primas essenciais para várias indústrias. Embora impulsione economias regionais, pode causar impactos ambientais, sociais e culturais negativos. No Brasil, o Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, é uma das maiores reservas de lítio do mundo. Devido à importância estratégica do lítio para a “transição energética”, sua exploração é vista como uma possível salvação para a região, historicamente associada à pobreza e atraso, justificando projetos de desenvolvimento supostamente redentores.

Este artigo procura responder ao problema de pesquisa: Como vem sendo construído discursivamente a legitimidade da exploração do lítio no Vale do Jequitinhonha? Neste sentido o objetivo do texto é compreender como a exploração do lítio no Vale do Jequitinhonha, tem sido legitimada a partir do significado das palavras “desenvolvimento”, “esperança” e “verde”.

O neoextrativismo é o fenômeno caracterizado pela remoção de recursos naturais em grande escala em territórios até então considerados como improdutivos, especialmente na América Latina (GONÇALVES;MILANEZ,2019). Dada a perspectiva de crescimento econômico proporcionado pela atividade mineradora os governos não apenas promovem a mineração, mas também negligenciam reivindicações sociais sobre os impactos negativos dessa atividade. Contudo Zhouri (2018) observa que, apesar do discurso de progresso, projetos minerários resultam em expropriação, destruição de ecossistemas e eliminação de economias.

A metodologia do estudo adotou uma abordagem qualitativa e descritiva, com foco na análise crítica do discurso, conforme proposta por Fairclough. A pesquisa examinou 33 artigos e 35 postagens no Instagram, destacando as palavras "desenvolvimento", "esperança" e "verde", além de suas correlações com outros termos.

Os resultados revelam que a exploração de lítio no Vale do Jequitinhonha tem sido promovida como uma oportunidade de desenvolvimento econômico, transformando uma região anteriormente pobre em um polo de progresso. Esse discurso, sustentado por políticos e empresas, destaca a criação de empregos e atração de investimentos bilionários. No entanto, a retórica do "desenvolvimento" muitas vezes beneficia investidores, em detrimento de degradação ambiental e aniquilação de modos de vida tradicionais. O discurso dominante omite essas questões e favorece interesses econômicos de curto prazo.

O texto analisa a mineração de lítio no Vale do Jequitinhonha e sua promessa de desenvolvimento econômico e social para a região. A partir da análise do discurso de Fairclough (2003), verifica-se como os termos "desenvolvimento", "verde" e "esperança" tentam legitimar a exploração do lítio na região, muitas vezes obscurecendo impactos negativos. Apesar da retórica de transformação e sustentabilidade, questiona-se se o desenvolvimento propagado serve à comunidade local ou prioriza interesses econômicos em detrimento de demandas não mercadológicas, com valores ambientais, culturais e regionais.

FAIRCLOUGH, N. Analysing discourse: textual analysis for social research. Londres: Routledge, 2003. GONÇALVES, R. J. A. F.; MILANEZ, B. Extrativismo mineral, conflitos e resistências no Sul Global. Revista Sapiência: Sociedade, Saberes e Práticas Educacionais, v. 8, n. 2, p. 06-33, 2019. Dossiê: Extrativismo mineral, conflitos e resistências no Sul Global. ISSN 2238-3565. ZHOURI, A. Introdução. In: ZHOURI, A. (ed.). Mineração: violências e resistências [livro eletrônico]: um campo aberto à produção de conhecimento no Brasil. Marabá: Editorial iGuana; ABA, 2018. p. 8-26. ISBN 978-85-68819-13-5