Resumo

Existem várias abordagens conceituais relacionadas ao teletrabalho, discorridas tanto na literatura nacional quanto internacional. No entanto, a propagação de uma modalidade de trabalho emergente tem suscitado um crescente interesse em pesquisas voltadas para a compreensão dos principais desafios, benefícios e percepções associados ao trabalho remoto. Além disso, os últimos anos evidenciaram a tendência da consolidação dessa nova organização de trabalho nas instituições públicas, tornando imprescindível a investigação acerca do seu impacto nas estruturas organizacionais.

A investigação acerca dos impactos que os estilos de liderança e as práticas de GP geram na QVTe de servidores públicos torna-se cada vez mais importante no atual panorama. Nesse sentido, é identificada na literatura uma lacuna no que se refere à interação entre liderança, práticas de GP e QVTe. Soma-se a isso a necessidade de testar modelos estruturais mais sofisticados, como de mediação, envolvendo variáveis de GP e comportamento organizacional. Assim, o objetivo deste estudo é verificar se as práticas de GP podem ser mediadoras da relação entre liderança e QVTe.

Liderança pode ser definida como o exercício da influência sobre as pessoas nas organizações para que esforços coletivos alcancem objetivos compartilhados. Segundo Demo et al. (2020), as práticas de GP caracterizam as propostas articuladas e integradas às estratégias organizacionais, no trato das relações humanas, com vista à obtenção de resultados desejados. A QVTe, por fim, constitui-se no conjunto de práticas de gestão que promovem a predominância de emoções positivas no teletrabalho, permitindo satisfação e realização pessoal e profissional (Andrade et al. 2020).

Neste estudo foi proposta uma pesquisa quantitativa, com utilização de um survey online para o levantamento dos dados. A amostra é não-probabilística por conveniência e reuniu uma total de 158 servidores públicos de aproximadamente 50 organizações diferentes. A pesquisa caracteriza a liderança como variável preditora ou independente, as práticas de GP como variável mediadora e a QVTe como variável dependente ou critério. As quatro hipóteses de pesquisa foram testadas por meio de análises de caminhos para análise de mediação. Os dados foram tratados e analisados nos softwares SPSS e AMOS.

Os resultados revelaram a mediação parcial das práticas de GP em relação ao contexto do teletrabalho, um dos fatores de QVTe. As práticas contemporâneas de GP, no contexto de arranjos de trabalho flexíveis, tais como o teletrabalho, oferecem aos trabalhadores maior autonomia e flexibilidade, fornecendo estratégias valiosas para identificar problemas que afetam a qualidade de vida, como a sobrecarga de trabalho, o que converge com a mediação das práticas de GP na relação entre liderança e QVTe.

Os achados deste estudo confirmam a relação hipotetizada entre as três variáveis de pesquisa, onde as práticas de GP efetivamente medeiam a relação entre liderança e QVTe, de forma que o objetivo da pesquisa foi alcançado. O modelo estrutural testado preenche uma lacuna científica ao relacionar as três variáveis de pesquisa, sendo elas a liderança, práticas de GP e QVTe. Ainda, investiga a liderança especificamente no teletrabalho em tempos de crise, cujo tema ainda é pouco investigado na literatura. Por fim, avança rumo ao teste de modelos estruturais mais complexos, incluindo mediação.

Demo, G., Costa, A. C., Coura, K., Miyasaki, A. C., & Fogaça, N. (2020). What do scientific research say about the effectiveness of human resource management practice? Current itineraries and new possibilities. Revista de Administração da UNIMEP, 18(3), 138-158. Pantoja, M. J., Andrade L. L. S. & Oliveira, M. A. M, A. (2020). Qualidade de vida no teletrabalho compulsório: Percepções de trabalhadores de uma organização pública brasileira. Revista da UI IPSantarém. Edição Temática: Ciências Exatas e Engenharias. 8(4), 80-94.