Resumo

A discussão sobre o teletrabalho aplicado na administração pública brasileira cresceu a partir da implementação obrigatória de regimes de trabalho remoto decorrentes do isolamento social imposto durante a pandemia Covid-19. Entretanto, modelos e práticas de teletrabalho já são adotados nas organizações públicas desde o início da década de 2000, como experiências pilotos. Apesar da ascensão do interesse por este objeto de estudo em função da realidade empírica, resta saber se essa onda de pesquisa vingará após maior consolidação da modalidade de trabalho remota para máquina pública.

O problema de pesquisa norteador desta revisão sistemática e narrativa da literatura sobre o teletrabalho é o seguinte: quais são as principais tendências (temporais e temáticas) sobre o teletrabalho no serviço público brasileiro com base na produção acadêmica nacional? Assim sendo, o objetivo de pesquisa segue a problemática anterior: analisar as principais tendências temporais e temáticas sobre o teletrabalho no serviço público brasileiro com base na produção acadêmica nacional nos últimos 20 anos.

O estado da arte da literatura nacional sobre o teletrabalho na administração pública tem como ponto de partida estudos que analisam este modelo laboral em organizações de diferentes setores, tanto na iniciativa privada, como no setor público, ora descrevendo as experiências, ora comparando as diferentes iniciativas, porém desconsiderando as particularidades das organizações públicas. Os estudos avançam para os órgãos públicos, mas com análises de experiências isoladas. Após o período pandêmico, as pesquisas intensificam a investigação sobre antecedentes, efeitos e resultados do teletrabalho.

Este estudo é uma revisão sistemática e narrativa da literatura sobre o teletrabalho aplicado na administração pública e caracteriza-se como uma pesquisa quantitativa e qualitativa, respectivamente com as técnicas de procedimentos bibliométricos para a acompanhar a evolução deste campo de estudos em três marcos temporais – durante a pandemia Covid-19 (T1), antes (T2) e depois (T3), bem como a utilização do método de co-palavras para fazer associações entre termos nos trinta artigos selecionados, além da pesquisa bibliográfica, sem critérios explícitos, para identificar seis temas transversais.

O desenvolvimento da pesquisa em termos temporais e temáticos indicou o seguinte: embora a maioria das publicações estão relacionadas período pandêmico (T1), há importantes análises empíricas sobre experiências prévias de teletrabalho (T2) e preocupações recentes com gestão de resultados e qualidade de vida no trabalho remoto (T3). Os seis temas transversais identificados– Flexibilidade, Tecnologia e Inovação, Produtividade e Gestão Remota, Saúde e bem-estar e Diversidade (gênero, PcDs)– relacionam-se a 4 clusters formados com os termos extraídos dos artigos selecionados organizados por cores.

Apesar das lacunas de estudos no período pré e pós-pandemia, é possível considerar que a pesquisa sobre o teletrabalho na administração pública não ficará estagnada e pode progredir para análises empíricas após a adoção generalizada do teletrabalho na administração pública, enfatizando temas ligados a produtividade, autonomia, inovação, saúde e bem-estar e questões de gênero. As limitações desta pesquisa referem-se aos critérios empregados, descritores amplos e único banco de dados. Sugestiona-se realizar uma nova revisão posteriormente ou utilizar os dados como base para pesquisa empírica.

Filardi, F., Castro, R., & Zanini, M.. (2020). Vantagens e desvantagens do teletrabalho na administração pública: Análise das experiências do Serpro e da Receita Federal. Cadernos EBAPE.BR, 18(1). Silva Júnior, M., & Sousa, W.. (2023). A Pesquisa em Teletrabalho na Administração Pública no Brasil: Uma Revisão no Catálogo de Teses e Dissertações (CTD/Capes). Revista Gestão & Conexões, 12(2). Zupic, I., & Čater, T. (2015). Bibliometric methods in management and organization. Organizational Research Methods, 18(3).