Diversidade, Diferença e Inclusão nas Organizações
Autores
Nome
1 - Andréia de Fátima Hoelzle Martins INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO RIO DE JANEIRO (IFRJ) - São Gonçalo
2 - Wescley Silva Xavier UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA (UFV) - Viçosa
Reumo
O texto é resultado de uma pesquisa de doutoramento, que teve como tema a discussão da relação entre interseccionalidade e cidadania através do estudo do processo de integração de imigrantes. Têm-se como premissa que a justiça e a cidadania são influenciadas pela intersubjetividade. Assim, a forma que um sujeito é visto perante os seus pares influencia o modo como acessa direitos, empregabilidade e também a forma com a qual este se vê como sujeito de direito. Ainda que igualmente garantidos, a entrega de direitos como o trabalho e o estudo, muitas vezes
Nesse sentido, o processo de integração de imigrantes foi profícuo para discutir essa temática. Muitos estudos sobre migrações sul-norte, ou seja, de migrações que ocorrem do sul global para países do norte, apontam que a integração é atravessada pela colonialidade, que constrói o colonizado como inferior, primitivo ou ameaçador. Sob o questionamento de como se dão essas interações em migrações sul-sul, objetivou-se discorrer sobre a relação entre interseccionalidade e cidadania tendo como base a experiência de integração dos migrantes sul-sul em São Paulo.
Para discorrer sobre justiça e intersubjetividade, baseou-se na teoria do reconhecimento, de Axel Honnet, visando indicar uma interdependência entre as esferas de reconhecimento, especialmente as de âmbito jurídico e social. Para discorrer sobre as relações de reconhecimento na sociedade brasileira, recorreu-se as teorias de Lélia Gonzalez, Fanon e Aimé Cesaire, que discutem a hierarquização social como consequência da colonização e como isso afeta a vivência dos grupos subalternos, como negros, indígenas e mulheres, nos âmbitos afetivos, jurídicos e sociais.
Foram coletados dados em dez entrevistas com migrantes sul-sul residentes em São Paulo. O roteiro visou compreender aspectos da vivência do imigrante como experiências no acesso a direitos, empregabilidade, relação com amigos, familiares e sociedade brasileira. Os entrevistados foram acessados por “Bola de neve” e autorizaram que as entrevistas fossem gravadas e transcritas. Todos os imigrantes se identificaram como pretos. O texto transcrito foi analisado a partir de categorias estabelecidas previamente e posteriormente à coleta de dados, considerando as orientações de Bardin.
Os dados deram luz à relação entre cidadania, empregabilidade e estima social, onde há uma hierarquização social marcada pelo racismo e xenofobia. As lógicas de colonização que se davam entre colonizadores e sociedades colonizadas permanecem nas relações contemporâneas e configuram desigualdade no acesso a direitos sociais e econômicos. Há uma reprodução das dinâmicas coloniais observadas no no cenário sul-norte, onde os lugares de menor prestígio são reservados aos imigrantes nas relações de trabalho e estudo, mesmo entre imigrantes que falam o mesmo idioma e passaram por mesma colonização.
Há interseção entre as esferas do direito e estima porque as oportunidades e acesso aos diretos se manifesta de forma desigual entre os grupos sociais, onde as hierarquias valorativas são determinadas pelas desigualdades econômicas, próprias do capitalismo e das desigualdades sociais, próprias da colonização. Com isso, não há cidadania plena com desigualdades sociais e econômicas porque isso hierarquiza grupos e gera discrepâncias na entrega de direitos como estudo e trabalho.
BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1979.
CÉSAIRE, A. Discurso sobre o colonialismo. Tradução de Érica Peçanha do Amaral. 2. ed. São Paulo: Editora Perspectiva, 2013.
FANON, F. Pele negra, máscaras brancas. São Paulo: Ubu, 2020.
GONZALEZ, L. Por um feminismo afro-latino americano: ensaios, intervenções e diálogos. Rio de Janeiro: Zahar, 2020.
HONNETH, A. Luta por Reconhecimento: a gramática moral dos conflitos sociais. São Paulo, Ed. 34, 2003.