Resumo

Nos últimos anos, as famílias brasileiras enfrentaram um cenário de incertezas econômicas, exacerbado pela falta de preparo para imprevistos e pela escassez de alfabetização financeira. A confiança e a competência na gestão das finanças pessoais são essenciais para um controle efetivo da vida financeira. Driva, Lührmann e Winter (2016) destacam que o nível de alfabetização financeira geralmente é mais baixo entre as mulheres, influenciado pela construção social de gênero, que define papéis, identidades e estereótipos, perpetuando essas disparidades.

Os estereótipos de gênero limitam o desenvolvimento, impactando na tomada de decisões financeiras. Indivíduos do gênero feminino frequentemente são percebidos como menos competentes e confiantes, o que resulta em obstáculos adicionais no acesso a serviços financeiros. Assim, a alfabetização financeira não apenas capacita indivíduos a estabelecer metas financeiras realistas, mas desempenha um papel fundamental na busca pela autonomia financeira. Portanto, este estudo visa analisar possíveis diferenças nos níveis de autonomia e alfabetização financeira com base nas disparidades de gênero.

A alfabetização financeira é uma combinação de conhecimentos, atitudes e comportamentos financeiros, que permitem alcançar o bem-estar financeiro (OCDE, 2023). Já a autonomia financeira está relacionada com a diminuição da dependência dos outros e a capacidade de atingir metas financeiras (Kumar et al., 2023). Por fim, os estereótipos, conforme Bordalo et al. (2016), podem explicar as diferenças de gênero em vários domínios, sendo que na parte financeira, representam crenças sobre os níveis e retornos futuros do conhecimento financeiro de mulheres e homens.

Este estudo classifica-se como descritivo e quantitativo. Em relação aos procedimentos para a coleta de dados, tem-se uma pesquisa de levantamento, que por meio da aplicação de um questionário online com 59 perguntas, obteve 322 respostas válidas distribuídas entre os gêneros. O questionário investigou o perfil socioeconômico e demográfico dos respondentes, bem como o nível de alfabetização financeira, estereótipo de gênero e autonomia financeira. Os dados foram analisados por estatística descritiva, com frequência, percentual e testes de diferença de média.

As médias de acerto nas questões de conhecimento financeiro entre os dois gêneros é diferente estatisticamente, ou seja, o público masculino possui um nível maior de conhecimento financeiro que o feminino. Com relação à tendência em viver e deixar o amanhã acontecer, o gênero feminino apresentou piores resultados, bem como guardam uma parte menor da renda todo mês. Além disso, o estereótipo de gênero é menos presente para o gênero feminino.

Os níveis de alfabetização financeira, autonomia reflexiva e estereótipo de gênero são estatisticamente diferentes entre homens e mulheres. Diante dos resultados, o gênero masculino é mais alfabetizado financeiramente do que o feminino. Eles também possuem melhor autonomia reflexiva; embora ambos apresentem alto nível. Quanto à investigação da presença de estereótipo de gênero na decisão financeira, os dois grupos apresentaram diferenças estatísticas, sendo este menos presente no gênero feminino.

BORDALO, P. et al. Stereotypes. The Quarterly Journal of Economics, v. 131, n. 4, 2016. DRIVA, A; LÜHRMANN, M.; WINTER, J. Gender differences and stereotypes in financial literacy: Off to an early start. Economics Letters, v. 146, 2016. KUMAR, P. et al. The interplay of skills, digital financial literacy, capability, and autonomy in financial decision making and well-being. Borsa Istanbul Review, v. 23, n. 1, 2023. Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. OCDE. (2023). OECD/INFE 2023 international survey of adult financial literacy.