Resumo

Título do Artigo

“NÓS ENTREGAMOS COMIDA COM FOME”: das narrativas à normalização do trabalho precário na gig economy
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Palavras Chave

Gig economy
Trabalho precário
Análise de narrativas

Área

Gestão de Pessoas

Tema

Bem-Estar e Mal-Estar no Trabalho

Autores

Nome
1 - Geraldo Tessarini Junior
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP) - Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária
2 - Ana Carolina de Aguiar Rodrigues
Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo - FEA - Administração
3 - Wilson Aparecido Costa de Amorim
Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo - FEA - Administração

Reumo

A gig economy é definida como um modelo de relação de trabalho intermediado por plataformas digitais e marcado por diferentes formas de precariedade, como informalidade, ausência de direitos, e fragmentação da classe trabalhadores e entregadores de aplicativos são um exemplo marcante. Apesar disso a literatura sugere que a gig economy pode não ser vista tão fortemente sob uma lente crítica ou negativa e que o trabalho precário pode ser até mesmo normalizado pelos trabalhadores, em especial em países do sul global, em que essas problemáticas são partes de uma realidade histórica.
Há uma lacuna relevante sobre o que, de fato, constitui essa possibilidade de normalização e como ela molda a relação entre o indivíduo, o trabalho, a plataforma e a sociedade. Nesse sentido, o objetivo deste estudo é compreender como as trajetórias e experiências dos trabalhadores estão associadas à normalização do trabalho precário. Combinamos esses dois aspectos – trajetórias e experiências – para buscar responder e discutir questões fundamentais: os trabalhadores da gig economy normalizam suas condições de trabalho precárias? Por quê?
No contexto da gig economy, o trabalho precário alcança inúmeras manifestações. A mais evidente é a vulnerabilidade social, jurídica e financeira a que os trabalhadores estão expostos. Além disso, há problemas diversos, como controle algorítmico das atividades, assimetria de poder, baixa representação coletiva, ausência de espaços adequados para descanso e alimentação, longas jornadas de trabalho, exploração, exposição constante às mudanças climáticas, violência, assédio, acidentes e assaltos (Pankaj & Jha, 2024; Wu & Huang, 2024).
Realizamos análise de narrativas a partir de entrevistas com 27 motoristas e entregadores de aplicativos de todas as regiões do Brasil. Tal método enfatiza as histórias dos participantes sobre suas trajetórias e experiências de trabalho. A análise de narrativas foi feita por meio da combinação de duas abordagens propostas por Riessman (2005): análise estrutural e temática.
A análise de narrativas dos motoristas e entregadores entrevistados revela a ambivalência das trajetórias e experiências, que são marcadas por histórias positivas associadas à flexibilidade e autonomia no trabalho e por histórias negativas de exploração e insegurança. A partir delas, apresentamos e problematizamos o conceito de normalização do trabalho precário para compreender a tendência dos trabalhadores de adaptação a uma determinada realidade percebida como imutável e/ou inevitável, mesmo que injusta e/ou indesejada.
A normalização do trabalho precário discutida no estudo é decorrente dos seguintes aspectos: i) alta dependência financeira em relação às plataformas; ii) percepção de que as experiências profissionais anteriores são piores que o trabalho como motorista ou entregador; iii) baixa empregabilidade percebida para substituir o trabalho atual; iv) percepção de que as plataformas se tornaram hegemônicas e indispensáveis à sociedade; v) assimetria de poder em relação às plataformas e aos usuários; e vi) percepção de pouca efetividade da organização e da ação coletiva.
Pankaj, A. K., & Jha, M. K. (2024). Gig workers in precarious life: The trajectory of exploitation, insecurity, and resistance. American Journal of Economics and Sociology, December 2023, 1–12. Riessman, C. K. (2005). Narrative Analysis. In Narrative, Memory & Everyday Life (pp. 1–7). University of Huddersfield. Wu, D., & Huang, J. L. (2024). Gig work and gig workers: An integrative review and agenda for future research. Journal of Organizational Behavior, 45(2), 183–208.