Resumo

Diretrizes Curriculares Nacionais para bacharelado em administração pública definem a capacidade crítico-reflexiva entre as competências requeridas. Estudos abordam a formação no campo, a necessidade e desafios relacionados à aquisição desta competência em contraste com a instrumentalidade e tecnicismo predominante nos cursos. A revisão da literatura indica polissemia e imprecisões envolvendo os conceitos de pensamento, de crítica e de reflexão. A natureza do estudo propõe-se o recorte do tema tomando-se como ponto central a investigação do conceito reflexão à luz da filosofia.

Com frequência se ouve: Vamos refletir sobre este assunto? Por vezes é possível que se fale de reflexão quando se está disposto a simplesmente pensar. E quanto ao conceito de crítica? Constitui atitude que encerra em si a reflexão? E como a filosofia pode contribuir para explorar estas fluidas fronteiras conceituais? O objetivo é propor um exame dos conceitos de pensamento, de crítica e de reflexão à luz da literatura especializada, em particular da filosofia, para dar melhor coerência e correção terminológica das estruturas discursivas, mas mais precisamente delimitar seus significados.

Revisada a literatura sobre pensamento crítico e reflexivo das áreas de administração, administração pública, educação e pesquisa, identifica-se imprecisões conceituais que fragilizam o pleno e suficiente entendimento do conceito. Avança para o originário campo da filosofia (vertente dos conceitos) em busca de referenciais consistentes para a análise. Identifica a reflexão ao filosofar. Autores clássicos e contemporâneos, seja da filosofia, seja da sociologia e administração pública entregam contribuições ao deslinde do problema com os conceitos de esclarecimento e atitude parentética.

Explora-se as diferenças conceituais entre pensamento, crítica e reflexão, definindo seus contornos delineadores. A literatura investigada apresenta inconsistências que passam a ser solvidas com recurso à produção filosófica atinente ao tema. O conceito de esclarecimento desenvolvido por Immanuel Kant demonstra a importância de recorrer à razão para investigar o pensamento e romper com as amarras da menoridade que limitam o sujeito. Na mesma linha, Guerreiro Ramos destaca a necessidade de uma atitude parentética a fim de superar a dependência.

Em que pese a distinção conceitual entre pensamento, crítica e reflexão, evidencia-se o intenso entrelaçamento e interdependência entre eles, especialmente entre a crítica e a reflexão. Demonstra-se, a seguir, mesmo a possibilidade de haver um pensamento crítico parcial, que se verifica sempre que destituído da atitude reflexiva. A reflexão integra o pensamento crítico, explorando de modo percuciente e corajoso as entranhas valorativas do próprio pensamento. Desse modo, a reflexão é tomada como parte constitutiva do pensamento crítico.

Bergue (2022). Contribuições da problematização filosófica para o estudo da administração pública. Cunliffe (2022). Reflexividade no ensino e pesquisa de estudos organizacionais. Guerreiro Ramos (1984). Modelos de homem e teoria administrativa. Kant. (2022). Resposta à pergunta: O que é esclarecimento? E outros textos. Kopelke & Boeira (2016). Reflexividade e criticidade no ensino de graduação em administração. Ongaro (2020). La Enseñanza de la Filosofía en los Programas de Administración Pública. Zöller (2020). Crítica: conhecimento e metafísica. In W. Dudley & K. Engelhard. Immanuel Kant.