Resumo

Título do Artigo

O Trabalho Doméstico e suas Interlocuções: um Estudo Não Metafórico/Metafórico
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Palavras Chave

trabalho doméstico
precariedade
estudos observacionais em análise fílmica

Área

Estudos Organizacionais

Tema

Diversidade, Diferença e Inclusão nas Organizações

Autores

Nome
1 - Nildes Raimunda Pitombo Leite
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO (UNIFESP) - Campus Osasco
2 - Juliana Correia da Silva
Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo - FEA - FEA
3 - Michele de Almeida Ramos
CENTRO UNIVERSITÁRIO BELAS ARTES DE SÃO PAULO (FEBASP) - 2

Reumo

Bastante presente na realidade do cenário cotidiano brasileiro, o trabalho doméstico nem sempre encontrou espaço de interlocução nas discussões sobre trabalho. Metaforicamente, filmes tais, ‘Como é boa nossa empregada’ (1973) e ‘Domésticas’ (2001) abriram sendas pouco aproveitadas para discussão relativa a essas trabalhadoras. Este artigo, elaborado enquanto a pandemia da COVID-19 assola diversos países, lança luz sobre o espaço para continuar a discussão acerca do trabalho doméstico e suas interlocuções entre centralidade, invisibilidade, remuneração e precariedade.
Este estudo afasta-se das multinacionais e dos cargos de liderança e gestão (Teixeira, 2015) para considerar a centralidade do trabalho doméstico, tendo em vista a estrutura do mercado de trabalho brasileiro, no qual se inserem invisibilidade, remuneração e precariedade. O primeiro objetivo, na perspectiva não metafórica, foi caracterizar o trabalho doméstico realizado por trabalhadoras no estado de São Paulo, observando-se tais interlocuções. O segundo foi observar metaforicamente esse trabalho, à luz do filme ‘Que horas ela volta?’ (2015).
O tema do trabalho doméstico gera incômodo, por expor a desigualdade social, a divisão sexual laboral e os desdobramentos da sociedade patriarcal (Ferreira, 2010). Historicamente, esse trabalho tem como antecessor a escravidão e, até hoje, a raça é importante elemento desse trabalho (Ávila, 2014). Essas trabalhadoras enfrentam preconceitos, violação de direitos, condições adversas e, sujeições que podem transbordar para a saúde (Silva, Araújo, Moreira & Barros, 2017). Tais marcas podem partir de um ponto em comum: o trabalho individualizado, precarizado e dissociabilizado (Antunes, 2018).
É um estudo de abordagem qualitativa (Gil, 2009) exploratório e descritivo (Vergara, 2010). A estratégia, no eixo não metafórico, foi a survey exploratória. O instrumento, roteiro de entrevista semiestruturada (Vergara, 2010). A estratégia de análise foi narrativa (Riessman, 2005) e de linhas narrativas (Spink, 2010), com análise de conteúdo (Bardin, 1979). Na parte metafórica, o filme ‘Que horas ela volta?’ foi utilizado, com base em Leite, et al. (2021) para estudo observacional em análise fílmica, como estratégia de pesquisa qualitativa, descritiva, indutiva, interpretativa e reflexiva.
As trajetórias das trabalhadoras refletem vidas profissionais aliadas à precariedade. Apesar de algumas terem migrado para São Paulo, visando maiores ganhos, oportunidades de estudo e melhores ocupações profissionais, os resultados apontam para aumento da feminização da precariedade, da informalidade e da baixa renda. Sobre as características do trabalho doméstico remunerado, são confirmados os achados de Ávila (2014), sobre jornadas de trabalho extensivas, intensivas e intermitentes. Quanto à pandemia, com base em Antunes (2020) notam-se (a) miserabilidade; (b) empobrecimento e (c) desemprego
O trabalho doméstico remunerado é espaço potencial de centralidade, invisibilidade, precariedade e sujeições. A perspectiva da relação patrão/patroa-trabalhadora é alvo das histórias mais marcantes de sujeição, bem como fonte inesgotável de elementos de precariedade. É fato relatado que algumas dessas trabalhadoras se reconhecem historicamente desassistidas pelo poder público, mas, em esfera individual, questões estruturais são exacerbadas pelos patrões/patroas que se valem do espaço privado e desregulamentado de suas casas para reproduzirem preconceitos, inseguranças e violações de direitos.
Ávila, M. B. M, Ferreira. V. (2014). Trabalho produtivo e reprodutivo no cotidiano das mulheres brasileiras. In Ávila, M. B. M, Ferreira. V. (Org.) Trabalho remunerado e trabalho doméstico no cotidiano das mulheres, (pp. 13-50). Recife: SOS Corpo. Leite, N. R. P., Leite, F. P., Nishimura, A. T. Silva, M. A. B. & Santos, E. G. (2021). Film analysis in management research: knowing why and how to use it. Revista Gestão e Regionalidade, 37(12). Saffioti, H. (1979). Emprego doméstico e capitalismo. Rio de Janeiro: Avenir Editora Limitada