Resumo

O chá é uma bebida milenar, que vem sendo incorporada de forma cada vez mais expressiva nas mais distintas culturas e ocasiões de consumo, consagrando-se como a segunda bebida mais consumida no mundo. Dado que o fenômeno do consumo vai além da aquisição, uso e descarte de produtos e serviços, abrangendo uma complexa rede de significados que contribui para moldar os desejos e comportamentos dos indivíduos, é percebida a necessidade de se realizarem mais pesquisas científicas voltadas para o campo mercadológico que engloba os mais variados setores da alimentação.

Assim como outros campos do saber voltados para estudos da alimentação, a gastronomia tem avançado na direção de investigações acerca de aspectos culturais, sociais e das práticas de consumo que permeiam o campo alimentar. Contudo, no Brasil, ainda são escassas as pesquisas científicas que se dedicam a compreender questões mercadológicas e as tendências envolvidas nas práticas do consumo de chá. Neste contexto, o objetivo deste estudo é analisar de que forma as principais tendências que permeiam o mercado brasileiro de chá são implementadas pela maior rede de chás gourmet do país.

No que se refere a legislação brasileira (RDC n° 267 de 2005), os chás podem ser classificados como infusões de várias espécies de botânicos, além da Camellia sinensis. Gaylard (2016) cita que os blends ganharam popularidade ao longo dos últimos cinco anos, representando a maior demanda do mercado. Além do apelo relacionado à saúde a partir do seu consumo regular. Tal conceito pode ser descrito como o desejo por produtos específicos, aliado à capacidade de compra. No Brasil, entre 2019 e 2023, espera-se um crescimento de 43% desse mercado, que se concentra na atmosfera premium.

Este estudo se caracteriza como uma pesquisa exploratória de abordagem qualitativa, sendo empregado o método de estudo de caso (Yin, 2014) com múltiplas fontes de coleta de evidências, a saber: análise documental, artefatos físicos, observação direta e entrevistas em profundidade. Para o tratamento do material coletado fez-se uso da triangulação de dados aliada à análise de conteúdo, a fim de encontrar fenômenos singulares relativos ao tema analisado.

Foi revelada a aproximação com o cliente como um dos principais meios para a aplicação das estratégias da empresa, assim como a oferta de experiências sensoriais diferenciadas e a manutenção do caráter exclusivo dos produtos, que possuem a qualidade como principal atrativo. Iniciativas que aliam personalização, inovação e conveniência também foram identificadas como um meio expressivo de adequação às demandas do mercado, cujo apresenta o desenvolvimento de sabores exóticos e locais aliados à prática de ações sustentáveis como oportunidades.

As práticas alimentares representam um relevante indicador acerca do estilo de vida dos indivíduos de um determinado local, podendo ser reflexo de práticas culturais e mudanças sociais. No Brasil, o consumo de chá ganha força, principalmente, devido às práticas de consumo sustentável e consciente, que se apresentam como tendências globais. O surgimento de sabores exóticos, a preocupação com a saúde ambiental e o desenvolvimento de inovações são alguns dos pilares identificados como responsáveis por ditar o mercado de chá nacional e internacionalmente.

BRASIL. Ministério da Saúde. ANVISA. Resolução RDC n° 267, de 22 de setembro de 2005. Regulamento Técnico de Espécies Vegetais para o Preparo de Chás. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 23 ago. 2005. GAYLARD, L. O livro do chá: história, espécies e variedades, indicadores de qualidade, técnicas de preparo, chás pelo mundo, utensílios, receitas. São Paulo: PubliFolha, 2016. REGO, R. A.; VIALTA, A.; MADI, L. F. C. Brasil beverage trends 2020: tendências do mercado de bebidas não-alcoólicas. Campinas: ITAL, 2016. YIN. R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. Porto Alegre: Bookman, 2014.