Resumo

Um dos pressupostos da pesquisa qualitativa é a interação sujeito e fenômeno, o que reforça a necessidade de ser estudada afim de promover novos percursos na realização de estudos na área da administração. No ensino da abordagem qualitativa a aproximação entre o objeto e o pesquisador é oportuna para a aprendizagem do método, uma vez que essa proximidade pode favorecer uma interação entre o sujeito e o objeto para melhor compreensão do fenônemo estudado (GÜNTHER, 2006).

A vivência com o campo / objeto, aproximando-se do fenômeno em estudo, se configura como estratégia importante no ensino da pesquisa qualitativa e do método etnográfico, especialmente por possibilitar aos estudantes vivenciarem práticas de pesquisa qualitativa. Dessa forma, com a intenção de sugerir uma alternativa para o ensino da pesquisa qualitativa e do método etnográfico, temos como objetivo, neste artigo, identificar as percepções de doutorandos sobre uma “vivência etnográfica”, buscando contribuir com o debate sobre o ensino de métodos qualitativos.

A etnografia tem como propósito a compreensão dos fenômenos a partir de uma perspectiva interna; sua principal característica é a inserção do pesquisador no ambiente a ser pesquisado (FLICK, 2009). Sua participação é profunda ao inserir-se no campo, pois ele sente as dores, agonias, experiências emocionais, pequenas vitórias, traumas, fantasias, sonhos e esperanças presentes no contexto vivenciado; portanto, trata-se de narrativas reais do campo pesquisado (VAN MAANEN, 1988, apud VIDICH; LYMAN, 2006).

O percurso metodológico se inter-relaciona com a metodologia adotada para a realização da vivência etnográfica. A caracterização da vivência etnográfica como um relato técnico-acadêmico ocorre por se tratar de uma prática vivenciada no ensino de métodos qualitativos, no caso específico, a etnografia. Além disso, refere-se a um estudo teórico-empírico, bibliográfico, com estudo do meio, uma vez que houve a exploração prévia do campo onde a vivência foi realizada.

Destacamos a importância de não diferenciar ou valorizar determinado método em detrimento de outros, mas mostrar que promover o exercício dos métodos qualitativos, em particular, no ensino da pesquisa, nos ajuda a percebermos como a realidade é complexa – especificamente, os fenômenos estudados – e como ela pode ser abordada sob a perspectiva de diferentes lentes, como a ‘lente da etnografia’, sempre articulando o que ‘queremos enxergar’ com aquilo que realmente estamos enxergando, à luz da lente utilizada, sobretudo reconhecendo as múltiplas facetas que essa realidade complexa tem/pode ter.

É possível afirmar que o objetivo do artigo foi alcançado, uma vez que a vivência etnográfica possibilitou o exercício do método por meio da percepção dos doutorandos em identificar elementos característicos do método etnográfico frente à vivência realizada e as diferentes interações que aconteceram no momento de realização da atividade nos papeis de observador e observado.

FLICK, U. Uma introdução à Pesquisa Qualitativa. Porto Alegre: Bookman, 2009. GÜNTHER, H. Pesquisa qualitativa versus pesquisa quantitativa: esta é a questão? Psicologia: teoria e pesquisa, Brasília, v. 22, n. 2, p. 201-210, maio-ago., 2006. VIDICH, A. J.; LYMAN, S. M. Métodos qualitativos: sua história na sociologia e na antropologia. In: DENZIN, N. K.; LINCOLN, Y. (org.). O planejamento da pesquisa qualitativa: teorias e abordagens. Porto Alegre: Artmed, 2006.