Resumo

A quantidade de mulheres e homens que iniciam um negócio no Brasil é similar, no entanto, passado o estágio inicial, os homens se estabelecem como empreendedores, enquanto as mulheres nem sempre chegam à consolidação dos negócios. Tal aspecto pode ser explicado, possivelmente porque (a) os homens se ingressaram primeiro no empreendedorismo que as mulheres e consolidaram sua base empreendedora, (b) as mulheres abandonam mais os negócios pois enfrentam mais maiores desafios e obstáculos (GEM, 2019; GRECO, 2020), ou seja, pela desigualdade de gêneros que também atinge as mulheres empreendedoras.

Neste contexto, o problema ao qual este artigo se propõe a responder é: de que maneira uma associação de mulheres contribui para aprendizagem empreendedora de suas participantes? Buscando compreender tal aspecto, elegeu-se os seguintes objetivos: a) apresentar as ações realizadas pela associação de mulheres empreendedoras; b) descrever os fatores que contribuem para o processo de aprendizagem das participantes da associação de mulheres empreendedoras.

A Aprendizagem Situada afirma que os indivíduos aprendem através de suas relações informais em seus ambientes sociais, ou seja, este tipo de aprendizagem é produzido por meio de situações reais em que pessoas se comunicam, interagem e se relacionam entre si. Tal processo envolve a participação em uma comunidade de prática, participação periférica legitimada e envolvimento em um currículo situado. A aprendizagem empreendedora ocorre quando por meio da aquisição de conhecimentos e da experiência através das suas práticas sociais, o indivíduo adquire conhecimentos para aplicar em seu negócio.

Foi desenvolvida uma pesquisa qualitativa, do tipo um estudo de caso em uma associação de mulheres empreendedoras, localizada no estado do Paraná. Para fins de coleta de dados, utilizou-se a amostra do tipo bola de neve para a seleção de participantes da entrevistas semiestruturada, realizada com nove mulheres e encerrada após saturação. Por causa da Pandemia por Covid-19, as entrevistas semiestruturadas foram realizadas via Zoom. Foi coletado um formulário com uma informante chave. E, a análise de documentos da associação. Após a transcrição, procedeu-se com a análise de conteúdo.

Surgiram três categorias: a associação de mulheres empreendedoras, aprendizagem empreendedora prévia e aprendizagem situada na associação. A associação de mulheres empreendedoras tem por característica a pluralidade de negócios. Em relação à aprendizagem empreendedora prévia, cada mulher empreendedora carrega dentro de si experiências anteriores de vida e de negócios. A associação tem como currículo situado acesso a experiências de mulheres empreendedoras, construção coletiva de necessidades de aprendizagens formais sobre empreendedorismo, organização dos grupos de trabalho e networking.

Destaca-se que a entrada na associação em si constitui-se um processo distintivo, não só pelo processo seletivo minucioso, ou mesmo pelo período de experiência, mas por se tratar de um grupo fechado de cinquenta mulheres que “fazem parte”. Tal aspecto reforça a conclusão de ser importante participar desta comunidade de prática, ter acesso a um grupo seleto, fazer networking que pode gerar destaque, captação de clientes e realização de parcerias, é esse acesso que permite a construção, reconstrução e negociação da prática ser mulher empreendedora no norte do Paraná.

ANTONELLO, C. S.; GODOY, A. S. Aprendizagem Organizacional no Brasil. Porto Alegre: Bookman, 2011. LAVE, J; WENGER, E. Situated Learning: legitimate peripheral participation. Nova York: Cambridge University Press, 1991. VOGT, S.;BULGACOV, Y. L. M. Aprendizagem Empreendedora: Conhecendo o Passado e Vislumbrando o Futuro. Desenvolvimento em Questão, v. 17, n. 49, p. 247-275, 2019.