Resumo

A pandemia de COVID-19 iniciou a partir de 2020 uma crise multidimensional em todo o mundo, criando grandes dificuldades para muitos setores. Um dos casos mais flagrantes é o setor de Frutas, Legumes e Verduras (FLV), pela sua essencialidade, multiplicidade de agentes envolvidos, impactos socioambientais gerados e peculiaridades logísticas (BÉNÉ et. al., 2021). Esta pesquisa busca identificar os impactos, mudanças e inovações na oferta e demanda de FLV no Brasil e, especialmente, em Poços de Caldas e região, em face dos desafios impostos pela pandemia de COVID-19.

A pesquisa enfoca a seguinte questão: quais foram as mudanças no fornecimento e demanda de FLV a nível nacional e regional (a partir da cidade de Poços de Caldas - MG), incluindo eventuais inovações, ocasionadas ou catalisadas pela pandemia de COVID-19? O objetivo principal é, a partir dos dados secundários e evidências empíricas, encontrar modelos teóricos promissores para a gestão das cadeias de suprimentos alimentares de maneira a promover uma governança eficiente e impactos socioambientais positivos. Discutem-se conceitos como cadeias curtas, resiliência e "panarquia".

As cadeias de FLV destacam-se pela perecibilidade dos insumos, consistindo principalmente de cadeias curtas, conforme definidas por Marsden (2004). Contudo, a complexidade e importância adicionais do setor agroalimentar, conforme o conceito de "sistemas alimentares", legitimam o estudo de abordagens sistêmicas para sua estruturação e gestão de riscos. Identifica-se o potencial da "gestão panárquica" (WIELAND, 2021) para impulsionar a efetividade dos sistemas alimentares e das cadeias de FLV, podendo ajudar a inibir o surgimento e agravamento de pandemias.

A pesquisa pode ser classificada como qualitativa, descritiva e exploratória, partindo da análise documental (dados secundários) e complementando com entrevistas e visitas (dados primários), utilizando-se tanto da lógica dedutiva quanto da indutiva. O objeto de estudo é a interface entre produtores, distribuidores e varejistas da cadeia de suprimentos de FLV. A estratégia mais adequada para este projeto é o estudo de caso, que trata de questões do tipo “como” e “por quê”.

Pesquisas como a de Galindo et. al. (2021) atestam que mais da metade da população brasileira registra algum grau de insegurança alimentar em seus domicílios. A níveis nacional e regional, registrou-se uma sensível mudança no comportamento dos preços de FLV comercializadas na Ceasa de Poços de Caldas entre 2019 e 2020-21.Observa-se grande proatividade dos atores, revelando afinidade com as abordagens sistêmicas. Contudo, confirmam-se tendências de desigualdade socioalimentar entre as classes e regresso frente aos ODS. Prevê-se a consolidação da Internet e delivery como canais dos negócios.

Na crise pandêmica, novos modelos de negócio surgiram ou foram consolidados no setor de FLV, mas a demanda tem se concentrado especialmente nas classes A e B, com aumento da insegurança alimentar e regresso mundial frente aos ODS. Observa-se que as cadeias curtas de alimentos por si só não permitem aprimorar a efetividade e sustentabilidade do setor agroalimentar. Enquanto grandes empresas de varejo expandiram seus lucros, os atores menores ainda lutam para se reestabelecer ou se consolidar.

BÉNÉ, C., et. al. “Impacts of COVID-19 on people’s food security: foundations for a more resilient food system”. CGIAR, 2021. GALINDO, E.; et. al. 2021. “Efeitos da pandemia na alimentação e na situação da segurança alimentar no Brasil.” Food for Justice. Berlin, 2021. MARSDEN, T. “Theorising food quality: some key issues in understanding its competitive production and regulation”. In: Qualities of food. Manchester University Press, 2018 WIELAND, A. “Dancing the Supply Chain: Toward Transformative Supply Chain Management”, Journal of Supply Chain Management, 2021, 57(1), 58–73