Resumo

O termo opt-out tornou-se um comum no vernáculo relacionado às carreiras femininas, ao sinalizar o êxodo de mulheres qualificadas do mercado de trabalho para dedicarem maior atenção aos filhos e à família. Baseado em valores neoliberais, está associado a mulheres que podem pagar por sua liberdade de escolha e viver sob seus termos. Estudos acerca das motivações que levaram ao opt-out, o período de cuidado em tempo integral dos filhos e como acontece o processo de volta ao mercado de trabalho serão analisados neste estudo.

O presente artigo buscou resposta para a seguinte pergunta de pesquisa: como se dá o processo que leva as mulheres a se afastarem do mercado de trabalho, em função da maternidade, culminando no seu posterior reingresso? Desta forma, buscou-se compreender o processo que leva mulheres a saírem do mercado de trabalho para se dedicarem exclusivamente à maternidade e o seu posterior reingresso, à luz do movimento opt-Out.

O referencial teórico abarca a origem do termo opt-out; os motivos que levam as mulheres a aderir ao fenômeno opt-out; o período de dedicação aos filhos em tempo integral; e, por fim, o processo de volta ao trabalho remunerado, que é composto por temas como: as razões para retorno ao mercado de trabalho, os obstáculos que as mulheres enfrentam em função do gap na carreira, e as estratégias para obterem êxito no retorno.

Para alcançar o objetivo do estudo foram recolhidos, presencialmente, os depoimentos de duas mulheres pós graduadas, brancas, de classe média alta, heterossexuais e casadas. As duas suspenderam suas carreiras consolidadas para cuidar exclusivamente dos filhos e, após um período, retornaram para o mercado de trabalho. As entrevistas foram realizadas com um roteiro aberto, iniciadas com a seguinte questão: me conte a história da sua trajetória de carreira. Para análise das histórias das entrevistadas foi utilizado o método de análise temática.

Constatou-se que as entrevistadas não interromperam suas carreiras apenas para cuidar dos filhos, mas também por razões relacionadas ao trabalho e à falta do apoio familiar. Durante o tempo em casa, elas vivenciaram experiências negativas, como o sentimento de improdutividade, e positivas, como de acompanhar o desenvolvimento dos filhos. Sobre o retorno para o trabalho, elas precisaram vencer obstáculos como a falta de autoconfiança e o estigma empresarial contra as mães. Após o regresso ao trabalho, elas seguem sobrecarregadas, lutando para equilibrar as demandas do trabalho e da família.

As entrevistadas vivenciaram um percurso complexo, caracterizado por provações, tribulações e triunfos, que nos levaram a pôr em xeque o caráter da livre escolha proposto pelo fenômeno opt-out. Uma vez que elas “escolheram” se afastar do trabalho remunerado para se dedicarem aos filhos, contribuem para criação e manutenção de lacunas de gênero perniciosas e persistentes presentes nas organizações e na sociedade em geral. Os resultados deste artigo reforçam a necessidade por políticas públicas e ações organizacionais que favoreçam o equilíbrio entre as demandas profissionais e familiares.

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