Resumo

“Para cada ação aparentemente ecológica, precisamos estar cientes de que pode haver uma reação”, disse o presidente da Vertis Environmental Finance, James Atkins (Griffiths, 2019). Por trás desta frase está a ideia de que o consumo sustentável e as práticas sustentáveis (Banbury, Stinerock, & Subrahmany, 2012), envolvem a consideração de compensações (trade-offs) associadas às dimensões da sustentabilidade para os consumidores, uma vez que estes passam a julgar os impactos de suas escolhas de consumo e as compensações envolvidas nestas escolhas.

O objetivo geral desde artigo é investigar como os consumidores percebem as compensações (trade-offs) envolvidas no consumo sustentável. Para tal, foram delineados os seguintes objetivos específicos: 1) Apreender o conceito de consumo sustentável do ponto de vista dos consumidores; 2) Conhecer a relação dos consumidores com práticas de consumo sustentável; 3) Compreender como os consumidores percebem os efeitos das escolhas sustentáveis.

A literatura sugere que, assim como o desenvolvimento sustentável, o conceito de consumo sustentável lida como diferentes dimensões – social, ambiental e econômica – e suas interações, que são inevitáveis (Sesini et al., 2020; Scherer et al., 2018). O consumo sustentável e suas práticas podem ser investigados segundo o modelo weberiano de tipo ideal (Calíope et al., 2016), foco deste artigo. Argumenta-se que, como não é possível para o consumidor levar em consideração todos os aspectos envolvidos no consumo sustentável, muitas vezes ele precisa lidar com compensações ou trade-offs.

Esta pesquisa foi exploratória, com abordagem qualitativa, utilizando como método de pesquisa o estudo de campo. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com 10 consumidores que se autodeclaram adeptas do consumo sustentável em algum nível e em quaisquer categorias. Os entrevistados foram selecionados por conveniência. A análise dos dados coletados foi realizada através da técnica de análise de conteúdo de Bardin (2011).

Observou-se que o consumidor tende a simplificar os conceitos abordados, dando uma ênfase no aspecto ambiental. Em relação às práticas de consumo sustentável sugiram categorias como Envolvimento, Seletividade, Redução e Reuso, Influências externas. Quando questionados sobre o lado negativo nas suas práticas de consumo sustentável, a maioria dos entrevistados afirmou que não existe consumo totalmente sustentável. Nessa etapa da análise, emergiram dos resultados categorias como Consciência dos trade-offs, Descarte como prioridade e Pequenos produtores locais.

Observou-se que o foco dado à questão ambiental, especialmente ao aspecto do descarte, permeou tanto as práticas de consumo sustentável quanto a percepção dos consumidores em relação às compensações envolvidas nesse consumo. Esse foco pode ser resultado de diversos fatores como a fonte de informações desses consumidores, as influências, as dificuldades em tornar essas práticas mais abrangentes ou na complexidade do conceito. Conclui-se que, para o consumidor, o conceito não consegue abarcar todos os aspectos abordados na literatura enquanto um tipo ideal.

Bardin, L. (2011). Análise de conteúdo. São Paulo, Edição 70. Calíope, T. S., Bezerra, A. N., & Silva, A.C. (2016). A (In)sustentável Leveza do Consumo: Ensaio sobre o Consumo Sustentável como um Tipo Ideal, MG. In Encontro de Marketing da Anpad. (7). Belo Horizonte. Griffiths, R. (2019, April 10). Trade-offs becoming a sustainability risk. Environmental Analyst. Retrieved from: < https://environment-analyst.com/global/76214/trade-offs-becoming-a-sustainability-risk> Access: 31 março 2021