Resumo

As competências são consideradas um fenômeno multível que acontece no nível da organização, equipes e indivíduos, conforme demonstrado no estudo de Merrit e Kelleey (2018) ao relatarem que as competências individuais e organizacionais influenciam a colaboração eficaz das equipes. Para efetiva implantação da inovação no setor público tem-se a premissa da necessidade de desenvolver as competências à inovação, tendo em vista serem consideradas condição essencial para o sucesso da inovação. Em função disso, é preciso ter clareza de quais são estas competências.

Há recomendações de investigações que especifiquem as competências para inovação no setor público (Wipulanusat et al., 2020), inclusive com abordagem multinível (Montezano & Isidro, 2020). Pawlowski et al. (2018) indicam a necessidade de avanços na lacuna de propostas de modelos de competências para inovação, baseados em evidências empíricas. Sendo assim, objetivou-se apresentar evidências de validade de escala de competências multiníveis para inovação no setor público brasileiro.

Montezano e Isidro (2020) afirmam que as competências para inovação ocorrem nos níveis da organização, equipes e indivíduos. Foram apresentadas as definições conceituais das competências nos três níveis de análise, além de elencar resultados de cinco pesquisas que identificaram um total de 20 competências no nível organizacional, e oito artigos que geraram uma lista de 53 competências no nível individual. Não foram identificados estudos que especificassem competências no nível de equipe.

Trata-se de pesquisa teórico-empírica, de natureza exploratória descritiva, com abordagem qualitativa, para validação de conteúdo e semântica, e quantitativas, para evidências estatísticas de consistência interna e fatorial. Foi aplicado questionário eletrônico contendo 59 itens de competências com 674 participantes voluntários representantes de profissionais que trabalham com inovação, em organização pública e sociedade. Realizou-se testes de pressupostos estatísticos, análise fatorial exploratória, análise de consistência interna e validade de conteúdo com suporte teórico da literatura.

Foram identificados bons índices de fatorabilidade (KMO, comunalidades, matriz de correlação superior a 0,30), de validade fatorial (cargas fatoriais superiores a 0,343 e variância explicada de 77,35%) e de confiabilidade decorrente da consistência interna de 0,992, além de suporte teórico para a maioria dos itens, enquanto alguns foram identificados nesta pesquisa, avançando na definição das competências para inovação. Confirmou-se o modelo multinível com evidências empíricas, agrupando os itens em três fatores – organizacional (9 itens), de equipe (18 itens) e individual (32 itens).

Pode-se apresentar evidências de validade estatísticas ao modelo multinível de competências para inovação no setor público brasileiro, com bons índices psicométricos de validade interna (cargas fatoriais), consistência interna, variância explicada do modelo, além de validade de conteúdo. Com isso, o objetivo de apresentar evidências de validade foi alcançado, contribuindo como um indício de comprovação de que o construto de competências para inovação é um fenômeno multinível.

Merrit, C.C., & Kelley, D.C. (2018). What individual and organizational competencies facilitate effective collaboration? Findings from a collaborative governance simulation. Journal of Public Affairs Education, 24(1), 97-121. Montezano, L., & Isidro, A. (2020). Proposta de modelo multinível de competências para gestão pública inovadora. Future Studies Research Journal: Trends and Strategies, 12(2), 355-378. Moussa, M., McMurray, A., & Muenjohn, N.(2018). A conceptual framework of the factors influencing innovation in public sector organizations. The Journal of Developing Areas, 52(3), 231-240.