Resumo

Um dos debates recorrentes nos Estudos Críticos é sobre a escassez de estudos empíricos. A ciência teria se isolado na reflexão abstrata no interior de uma metafórica torre de marfim, se mantendo afastada e isolada da realidade que estaria fora desta torre, portanto a problemática da metáfora gira em torno das relações entre teoria e prática. Propomos investigar possibilidades de enfrentamento da questão a partir do estudo de um projeto de extensão que se organizou a partir da proposta teórica de autogestão fundamentada na proposição de Tragtemberg.

A pergunta orientadora desta pesquisa é: quais os obstáculos decorrentes do uso da proposta teórica tragtemberguiana de autogestão como princípio organizativo do projeto de extensão Conheça a Universidade? O objetivo é debater o dilema da Torre de Marfim a partir desta experiência organizativa.

Discutimos três distintas resposta ao dilema da Torre de Marfim presentes no campo dos Estudos Críticos: a que defende a supremacia da teoria, a supremacia da prática e a que questiona a própria existência do dilema. Esta terceira vertente advoga o conceito de práxis para tratar da questão, nos filiando a esta perspectiva tratamos da proposta de autogestão de Tragtemberg, que para este autor é a materialização da práxis em um processo organizativo.

É um estudo de caso empírico, qualitativo, que utiliza a metodologia de pesquisa-ação. Inerente a esta metodologia, há um objetivo prático e um objetivo teórico. O objetivo prático é apresentar uma universidade pública a sociedade através do projeto de extensão Conheça a Universidade. Os dados da pesquisa partiram do projeto de extensão “Conheça a Universidade” ocorrido entre 2018 e 2019 somando 3 edições com um total de 2.684 visitantes, assim como mais de 100 membros entre discentes, docentes e técnicos. O objetivo teórico é investigar o uso da autogestão no processo organizativo do projeto.

No que esteve sob controle da equipe do projeto foi possível implementar a proposta teórica autogestionária baseada em Tragtemberg, os obstáculos foram externos a equipe e não se deveram a dificuldades teóricas e/ou metodológicos inerentes ao modelo teórico. Ao utilizar a práxis como articulação entre teoria e prática, constatou-se que os obstáculos são decorrentes das relações de poder mais amplas presentes no conjunto da sociedade, que ao mesmo tempo que incentiva a prática combate a práxis.

A efetiva superação dos dilemas teóricos no campo dos Estudos Críticos não será resolvida no interior do próprio campo. Não há modelo teórico ou inovação metodológica que torne abundante os estudos empíricos no campo dos Estudos Críticos orientados pela práxis enquanto permanecermos no modo de produção capitalista. Uma efetiva transformação do campo teórico depende de uma transformação geral nas relações de poder no conjunto amplo da sociedade, na qual a universidade exerce um papel importante porém não é a principal protagonista.

ALCÂNTARA, V. C. et al. A solution through praxis? Reflections about the ivory tower metaphor and the indissociability between theory and practice in organizational studies. RAM, São Paulo, v. 17, n. 5, p. 15-35. 2016. ALVESSON, M.; WILLMOTT, H. Critical management studies. London: Sage, 1992. On the idea of emancipation in management and organization studies. Academy of Management Review, v. 17, n. 3, p. 432-464, 1992b. TRAGTENBERG, M. Sobre Educação, política e sindicalismo, 2ª edição. São Paulo, Cortez Editora/Autores associados (Coleção Teoria e Prática Sociais), 1990