Resumo

A Resolução Conjunta no 1 e a Resolução no 4.054 aprovadas em 2020 regulamentam o Open Banking no Brasil. Contudo, a regulação nascente, a forte ênfase no consentimento do consumidor e as reações dos bancos em relação ao Open Banking trazem também certas dúvidas. Será a regulação suficiente para induzir os consumidores financeiros à adoção do Open Banking? O objetivo deste artigo é avaliar quais fatores explicam a intenção de consumidores por utilizar o Open Banking com base na Teoria Unificada de Aceitação e Uso de Tecnologia aplicando Modelagem por Equações Estruturais.

O Open Banking é resultado da convergência de mudanças tecnológicas, sociais e regulatórias e pode ser definido como um novo modelo de negócio financeiro colaborativo no qual valor é criado como resultado do compartilhamento de dados, processos e capacidades dos bancos com um ecossistema de empresas terceiras. Trata-se de um novo paradigma sobre os quais as relações entre consumidores e instituições financeiras são estabelecidas, refletindo a demanda de um consumidor nativo digital cujo comportamento e preferências são diferentes daqueles que ainda mantêm vínculos com os formatos do passado.

Com base na segunda Teoria Unificada de Aceitação e Uso de Tecnologia (UTAUT2) proposta por Venkatesh, Thong e Xu (2012), quatro hipóteses foram formuladas: (1) existe uma relação positiva entre o conhecimento e uso de serviços de Fintech e a intenção de uso de Open Banking; (2) existe uma relação negativa entre a confiança em provedores de serviços financeiros tradicionais e a intenção de uso de Open Banking: (3) existe uma relação negativa entre idade e a intenção de uso de Open Banking; (4) existe uma relação positiva entre renda anual e educação e a intenção de uso de Open Banking.

Para entender o potencial dessa nova dinâmica de prestar serviços bancários de forma colaborativa através de um modelo de sistema financeiro aberto, utilizamos os resultados de um estudo organizado pela empresa de consultoria EY no Brasil, realizada entre janeiro e maio de 2019. Foram entrevistados 1.024 indivíduos, com a finalidade de entender aspectos comportamentais no consumo de produtos e serviços financeiros digitais e a percepção sobre o Open Banking. O questionário continha 25 questões e foi aplicado eletronicamente por uma empresa especializada em pesquisas de mercado.

Com base na pesquisa realizada, selecionamos seis questões que foram associadas às variáveis dependentes e independentes do modelo e que estão relacionadas às hipóteses formuladas. As análises foram realizadas através de modelagem por equações estruturais por mínimos quadrados parciais segundo a sequência proposta por Hair, Risher, Sarstedt e Ringle (2019). Os critérios de qualidade, de validade discriminante, de colinearidade e de poder do modelo foram atendidos. As variáveis de mensuração do modelo se mostraram robustas. Os dados amostrais corroboraram as hipóteses de pesquisa.

A pesquisa indicou que o sentimento dos consumidores para utilizar o Open Banking é positivo. A convergência desse novo marco regulatório com a demanda crescente por serviços financeiros digitais faz do Open Banking uma realidade inquestionável no Brasil. O modelo de negócios em plataforma aberta traz desafios para os reguladores, para as instituições financeiras e para as Fintech. Aqueles que conseguirem entregar respostas mais eficazes exercerão um maior poder de atração entre os potenciais usuários e desenvolvedores dos serviços digitais, criando uma plataforma que beneficiará a todos.