Resumo

Tem se observado um crescente interesse da academia em relação à aposentadoria. No Brasil, essa preocupação tem se intensificado em função do rápido aumento da população idosa. A complexidade do tema repousa em seu caráter ambíguo e contraditório, por estar associado, de um lado, a uma espécie de prêmio e reconhecimento pelo dever cumprido e de outro, à decadência, perda de identidade e vínculos sociais. Ressalte-se que os indivíduos sentem e reagem ao processo de aposentadoria de maneira muito particular, em função dos aspectos individuais, familiares, organizacionais e contextuais.

Para contribuir com o debate, este artigo objetiva analisar as representações sociais da aposentadoria com dois grupos de docentes, pré-aposentados e aposentados, pertencentes a uma instituição pública de ensino superior, que enfrentaram alguns dilemas advindos dessa etapa de transição. O ambiente universitário tem se destacado como um terreno fértil para pesquisas sobre o tema na medida em que busca compreender a relação trabalho-aposentadoria entre docentes ativos e inativos, a partir da distinção de suas experiências durante essa etapa da vida.

Para responder ao objetivo do artigo, resgata-se a Teoria das Representações Sociais (TRS) (MOSCOVICI, 2013), oriunda da psicologia social e caracterizada por sua indissociabilidade entre o sujeito e o seu contexto social, particularmente relevante por valorizar o conhecimento espontâneo e favorecer a construção de uma realidade comum por meio do conhecimento elaborado e compartilhado socialmente. Trabalha-se também com a compreensão da aposentadoria como processo e não apenas como decisão (DAMMAN, 2017).

A pesquisa, de natureza exploratória e descritiva, foi orientada pela abordagem qualitativa. A coleta de dados ocorreu em 2017, durou 5 meses e foi realizada nas dependências da própria instituição, exceto em uma única oportunidade, em que uma entrevistada aposentada, por questão de comodidade, preferiu sua residência. Foram selecionados, por acessibilidade, 16 participantes. As entrevistas semiestruturadas seguiram um roteiro que buscou descobrir as experiências, reflexões e atitudes advindos do processo de transição para a aposentadoria. A análise de dados foi a de conteúdo, temática.

A partir da descoberta de três núcleos figurativos, i) o aspecto financeiro; ii) a centralidade do trabalho e o desejo de continuar contribuindo e; iii) a despreparação para a aposentadoria, constatou-se que o abono de permanência recebido pelos docentes na ativa, embora seja relevante, não é considerado determinante, haja vista as alternativas que podem ser encontradas fora da universidade em uma eventual decisão pela aposentadoria; de maneira geral, percebeu-se a intenção de continuar contribuindo com a universidade, mesmo entre aqueles que já estão aposentados.

Os entrevistados percebem que até poderiam obter alternativas financeiras superiores além desse ambiente, mas o prazer pela educação e os longos anos de dedicação à instituição limitam o interesse pela aposentadoria. Mostraram-se desinteressados quando o assunto é a preparação para a aposentadoria. Por outro lado, foi também relatado em um depoimento que o desejo de continuidade é reforçado não apenas pela dependência do abono mas, em algumas situações, receio de assumir outros desafios, fato este que deve ser observado com cuidado pela instituição.

AMARAL, L. B. C.; TORRES, T. L. Representação social da aposentadoria para professores universitários. Psicologia e Saber Social, v. 6, n. 2, 130-145, 2017. DAMMAN, M. Understanding Retirement Processes: The Role of Life Histories. E. Parry, J. McCarthy (eds.), The Palgrave Handbook of Age Diversity and Work, Palgrave Macmillan UK, 2017. JOGAIB, M. L. M. L; MUNIZ, H. P. Aposentadoria e trabalho docente: momento de despedidas ou reencontros com o trabalho? Cadernos de Psicologia Social do Trabalho, v. 18, n. 1, p.47-59, 2015. MOSCOVICI, S. Representações sociais. RJ: Editora Vozes, 2013.