Resumo

As teorias da prática apresenta-se como um novo paradigma para entender a realidade organizacional. O racionalismo explica a produção e o armazenamento do conhecimento centrado na mente do indivíduo, como um processo cognitivo individual e coletivo. As teorias da prática concebem o conhecimento como “uma atividade mundana, situada nas práticas de trabalho e organização em curso” (Gherardi, 2014, p. 4), portanto conectam o estudo das práticas de trabalho e o estudo do organizar, de modo que o conhecimento torna-se um fenômeno que pode ser observado (Gherardi, 2014).

O objetivo é compreender a aprendizagem em práticas sustentáveis em um contexto situado. Dois objetivos específicos foram delineados: 1) identificar como iniciou a prática sustentável no contexto situado e; 2) analisar a (re)construção do conhecimento em práticas sustentáveis no contexto situado. A abordagem, portanto, recai à prática situada, que é uma das análises propostas pelas teorias das práticas (primeiro momento).

“Conhecer na prática é uma realização prática” ou learning-in-organizing (aprender-ao-organizar). Essa abordagem diz respeito a um conjunto de atividade em que o saber e o fazer estão conectados, coproduzindo conhecimento. Conhecimento “é fabricado por práticas situadas de produção e reprodução de conhecimento utilizando as tecnologias de representação e mobilização” (Gherardi, 2014, p. 6). As práticas "são modos de ordenar que adquirem estabilidade temporal e espacial a partir de acordos provisórios e instáveis em prática” (Gherardi, 2014, p. 6). No estudo, assume-se a proposição de Gherardi.

Estudo qualitativo ocorreu no contexto de uma empresa familiar, de transporte coletivo, fundada na década de 1940, que se destaca em ações socioambientais no Estado do Ceará e no ramo de transporte. A coleta de dados ocorreu durante três meses; foram adotadas as técnicas documental, observação sistemática, registro em diário de campo e entrevista, de maneira combinada, constituindo na estratégia de triangulação de fontes. Para a análise foi empregada a narrativa, reconstruindo a trajetória do negócio e as práticas sustentáveis.

Os valores ambientais e sociais trazidos pelos membros fundadores iniciou a constituição de práticas sustentáveis no negócio. Tais valores, na dinâmica entre saber-fazer, foram transformados em conhecimento e disseminados interna e externamente. O organizar cotidiano desse conhecimento intensificou os significados e aprendizagens, que foram incorporados pela coletividade e que tornam o contexto singular na sustentabilidade. A estruturação, o incremento e a institucionalização das ações foram observados, frutos do conhecimento construído ao praticar e da aprendizagem na prática (Gherardi, 2001)

As práticas sustentáveis assumem dimensão extensiva, pela diversidade de interações envolvidas e pela natureza do conhecimento que é produzido, provocando aprendizagens que não se restringem a quem pratica. Nesse sentido, a prática sustentável apresenta uma contribuição na transformação da sociedade, já que a aprendizagem ocorre nas relações sociais dos indivíduos enquanto participam de uma sociedade, logo, contribuem na construção dessa sociedade. Tem-se, portanto, uma prática social, que promove aprendizagens e conhecimento sociais e tem potencial de transformação.

Gherardi, S. (2012b). Organizational learning: the sociology of practice. In M. Easterby-Smith & M. Lyles (Eds.). Handbook of organizational learning and knowledge management (2a ed.). Hoboken, NJ, USA: John Wiley & Sons. Gherardi, S. (2006). Organizational knowledge: The texture of workplace learning. Prometheus, 24(2), 223-232 Gherardi, S. (2001). From organizational learning to practice based knowing. Human Relations, 54(1), 131–139. Gherardi, S. (2000). Practice-Based Theorizing on Learning and Knowing in Organizations: An Introduction. Organization, 7(2), 211-223.