Resumo

Apesar da hotelaria não ter recebido atenção imediata quanto à sustentabilidade, há uma crescente preocupação com os impactos negativos gerados, mesmo considerando que esta proporciona benefícios sociais e econômicos em função da geração de empregos e renda, desenvolvimento do entorno, etc. Os impactos gerados se relacionam ao consumo e desperdício de água e energia, produção de resíduos, poluição sonora e do ar, e prejuízo à biodiversidade (BOHDANOWICZ, 2006; HSIEH, 2012; GROSBOIS, 2012). Para Hsieh (2012) os hotéis engajados com o tema adotam práticas ambientais.

Este artigo tem como objetivos mapear e promover uma reflexão quanto às práticas orientadas para sustentabilidade adotadas pela hotelaria e suas consequências à gestão. Para tal, propõem-se as seguintes questões: Quais são as práticas orientadas para sustentabilidade que os hoteleiros utilizam? Qual objetivo e contribuição dessas práticas? Qual relação entre as políticas organizacionais e as práticas orientadas para sustentabilidade?

Prática é a ação do profissional individual e coletiva, fruto da interpretação e ressignificação a partir de programas e ações organizacionais e compartilhada com os envolvidos (GHERARDI, 2009;). Sustentabilidade é um conceito integrado, uma ideia-força (SACHS, 2002) que envolve as dimensões ambiental, econômica, social, cultural e territorial (ELKINGTON, 2012; SACHS, 2002), suas relações com o contexto interno e com o externo. Ser sustentável interessa a hotelaria, porém esta carece de desenvolvimento: demanda a quebra do paradigma que a relaciona diretamente à redução de custos.

Esta pesquisa é qualitativa, pois permite identificar as representações em um contexto, possibilitando a apreensão de como os profissionais se apropriam de ações e as aplicam no cotidiano (GHEPART, 2004). Neste caso, as práticas orientadas para sustentabilidade e sua aplicação pelo profissional na hotelaria. Para a construção e coleta das informações, recorreu-se à entrevista por e-mail, com roteiro previamente estabelecido (FLICK, 2009). A escolha dessa estratégia se justifica pela possibilidade de contar com uma maior amplitude de material e atingir maior espaço geográfico.

Pode-se considerar que há, sob a ótica dos entrevistados, uma relação entre as práticas orientadas para sustentabilidade e políticas organizacionais, porém, nos relatos, não há a descrição detalhada de política ou programa voltados ao tema, o que direciona a reflexão para a necessidade de maior investimento na divulgação e/ou incentivo, pois pode-se supor falha na comunicação, gerando pouco conhecimento por parte dos participantes, ou ainda pouca efetividade da proposta.

Tanto no olhar mais amplo como no mais restrito, a hotelaria se encontra numa linha tênue entre sua contribuição com o desenvolvimento de práticas de excelência, numa atuação mais proativa, e, por outro lado, como uma mera minimizadora de impactos negativos, num comportamento mais pontual e reativo. Isso significa que a hotelaria está subutilizando seu potencial de contribuição uma vez que possui amplitude geográfica e atinge um volume considerável de envolvidos. O desafio é, portanto, o de buscar ações e práticas que ampliem e ultrapassem o mero olhar para as dimensões ambiental e econômica.

ELKINGTON, J. Sustentabilidade, canibais com garfo e faca. São Paulo, M. Books do Brasil Editora Ltda, 2012. FLICK, U., Introdução à Metodologia de Pesquisa. Porto Alegre: Penso, 2013. FONT X.; LYNES J. Corporate social responsibility in tourism and hospitality. Journal of Sustainable Tourism, v. 26, n.7, p.1027-1042, 2018. GHERARDI, S. Knowing and learning in practice-based studies: An introduction. The Learning Organization, v..16, n.5, p.352-359, 2009. SAARINEN, J. Traditions of Sustainability in Tourism Studies. Annals of Tourism Research, v. 33, n. 4, p.1121–1140, 2006.