Resumo

Embora durante décadas a sexualidade tenha sido um importante tema de pesquisa nos campos da medicina, da psicologia e de outras ciências sociais (Walther & Schouten, 2016), parece ainda ser verdadeiro o argumento defendido por Hirschman (1991) ao considerar que tanto a prostituição como a pornografia raramente fazem parte do rol de temáticas da pauta de pesquisadores pertencentes aos estudos de consumo. Quando se volta os olhos para a questão da pornografia feminista, percebe-se que a temática sequer foi mencionada nos estudos de consumo.

Embora possa ser possível citar trabalhos que já se debruçaram sobre esses temas oriundos de outras áreas do conhecimento (Ciclitira, 2004; Kämpf, 2008; Santana, 2013; Pátaro, 2013), parecem faltar relatos de pesquisas que possam responder a seguinte indagação: na perspectiva das mulheres, a pornografia feminista representa uma nova narrativa ou apenas uma nova “maquiagem” de velhos conceitos?

Buscou-se dedicar um espaço para se explorar os possíveis diálogos entre a sexualidade, o feminismo e suas conexões com o gênero. Na sequência, achou-se adequado incluir uma discussão sobre as aproximações e distanciamentos entre o erótico e o pornográfico, tendo a perspectiva do consumo como foco.

A investigação conduzida contém características que a alinham às pesquisas de cunho interpretativista, de natureza exploratória, com abordagem qualitativa. Duas fases da pesquisa foram implementadas: a primeira consistiu de observações em um grupo secreto da rede social Facebook e outra foi conduzida por meio de entrevistas em profundidade. Na análise de dados, foi utilizada a Análise de discurso. Duas categorias emergiram: A construção discursiva do consumo de pornografia pelas mulheres e A pornografia feminista a partir do discurso delas.

A análise dos resultados focou nos discursos das mulheres no tocante à forma que elas percebem o consumo de pornografia e, sobretudo, a percepção delas no tocante à pornografia feminista. Fica evidente que os resultados conseguem responder as questões da pesquisa, porém, o mais importante é o debate que os resultados suscitam no intuito de contribuir para “por para conversar” temáticas que podem ser caras ao campo do consumo envolvendo gênero, sexualidade, feminismo e consumo de pornografia.

O consumo de pornografia pelas mulheres se reveste de uma tentativa de reformular as percepções no tocante ao prazer, à sexualidade e ao autoconhecimento. Contudo, por outro lado, também a partir dos discursos das entrevistadas, foi possível verificar uma tendência das entrevistadas no sentido de que elas não percebem tanta diferença entre a pornografia mainstream e a feminista, pois mesmo sendo produzida por mulheres, com diferenciação nos roteiros e com uma visão mais feminina, as narrativas assistidas por elas não são diferentes formas de representação da sexualidade.

Díaz-Benítez, M. E. (2010). Nas redes do sexo: Os bastidores do pornô brasileiro. Rio de Janeiro: Zahar. Ribeiro Neto, A. & Ceccarelli, P. R. (2015). Internet e pornografia: notas psicanalíticas sobre os devaneios eróticos na rede mundial de dados digitais. Reverso, 37(70), 15-22. Santana, L. M. (2013). Tem pornô para mulher? Uma abordagem crítica para a pornografia feminista. Dissertação (mestrado) – Programa de Pós-graduação em Estudos Interdisciplinares sobre mulheres, gênero e feminismo. Universidade Federal da Bahia, Salvador-BA, 2013.