Resumo

Elevado consumismo associado à alta disponibilidade de crédito pode levar os consumidores ao endividamento e à inadimplência. Tal combinação pode aumentar as chances de problemas financeiros que ameaçam o bem-estar devido ao aumento do estresse financeiro. A competência na gestão financeira pessoal (GFP) contribui para reduzir os impactos negativos da falta de dinheiro e/ou inadimplência. Conhecer os antecedentes da GFP pode auxiliar no desenvolvimento de programas educacionais que buscam promover uma GFP adequada promovendo o bem estar e qualidade de vida da população.

O artigo buscou responder o seguinte problema de pesquisa: quais traços de personalidade são antecedentes de comportamentos de gestão das finanças pessoais e de tensão financeira. O objetivo deste trabalho é investigar os traços de personalidade que podem ser preditores do comportamento da gestão financeira pessoal (GFP) e da tensão financeira (TF) utilizando o modelo 3M de motivação e personalidade.

O endividamento e a inadimplência podem estar correlacionados com danos físicos, psicológicos e sociais justificando a investigação de fatores que podem promover a GFP adequada (decisões concretas nas situações de compras, pagamentos, poupança e investimentos, seguros, gestão de fluxo de caixa e de crédito - Dew & Xiao, 2011). A competência na GFP contribui para reduzir os impactos negativos do endividamento e da Tensão Financeira (TF). Estudos anteriores detectaram traços de personalidade relacionados à GFP como: Impulsividade, Competitividade, Consciência de Valor, além dos traços básicos.

Para alcançar o objetivo deste trabalho, foi elaborado um modelo de mensuração utilizando a estrutura hierárquica de traços de personalidade do Modelo 3M, a partir das hipóteses de pesquisa construídas com base na literatura e em deduções lógicas. Para testar o modelo foi realizado um levantamento via internet com 195 membros de cursos de pós-graduação de alguns estados brasileiros e os dados foram analisados utilizando modelagem de equações estruturais baseada em covariâncias.

As hipóteses propostas foram sustentadas: 1) traços do modelo apresentaram confiabilidade e validade de construto; 2) traços de nível hierárquico superior foram explicados por traços mais básicos; 3) o modelo parcialmente mediado teve melhor ajuste do que o modelo totalmente mediado e 4) proporções substanciais de variâncias de traços de níveis hierárquicos superiores são explicadas pelo modelo: 50% da variância de Competitividade; 54% da variância de Impulsividade nas Compras; 31% da variância da GFP e TF teve 56% da sua variação explicada (demonstrando a validade preditiva da escala de GFP).

Todos os traços elementares influenciaram algum traço superior na hierarquia do modelo mostrando a importância de traços mais básicos no comportamento. Consciência de valor não afetou nem GFP e nem TF, sendo retirado do modelo. Como possível aplicação dos resultados, as estratégias de programas de educação financeira devem enfatizar temas associados aos seguintes traços: Neuroticismo, Necessidade de Recursos Corporais, Abertura à Experiência, Impulsividade, Competitividade e Extroversão. Ademais, quanto mais adequada a GFP, menor a TF, corroborando resultados de estudos anteriores.

Dew, J., & Xiao, J. J. (2011). The Financial Management Behavior scale: development and validation. Journal of Financial Counseling and Planning, 22 (1), 43-87. Joo, S. (2008). Personal financial wellness. In Handbook of consumer finance research (pp. 21-33). Springer New York. Mowen, J. C. (2000). The 3M model of motivation and personality: Theory and empirical applications to consumer behavior. Boston: Kluer Academic Publishers. Organisation for Economic Co-operation and Development (OECD) (2012), OECD/INFE High-Level Principles on National Strategies for Financial Education, OECD Publishing