Resumo

Título do Artigo

Canal de Depósitos da Política Monetária e Restrição de Crédito Bancário
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Palavras Chave

Bancos
Racionamento de crédito
Canal de depósitos

Área

Finanças

Tema

Gestão Financeira

Autores

Nome
1 - Alex Nery Caetité
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP) - Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade - FEA
2 - Almir Ferreira de Sousa
Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo - FEA - Administração

Reumo

Em junho de 1999, o Brasil estabeleceu como diretriz para fixação do regime de política monetária a sistemática de metas para inflação. Desde então, o Banco Central adota um caráter preventivo na condução da política monetária, sendo um aspecto chave o conhecimento dos mecanismos de transmissão da política monetária. Uma abordagem recente no estudo desses mecanismos é a teoria do canal de depósitos, segundo a qual diante de um aumento da taxa básica de juros os bancos ampliam seus spreads de depósitos, motivando uma fuga de recursos e, consequentemente, uma redução do montante de crédito.
Ao melhor do nosso conhecimento inexistem trabalhos empíricos que testem os efeitos do canal de depósitos no Brasil. Diante disso, o objetivo deste artigo é testar a eficácia dos efeitos de mudanças na política monetária sobre o montante de depósitos bancários, considerando os impactos que os diferentes níveis de concentração bancária observados entre os municípios podem exercer sobre esses efeitos. Ademais, serão realizados testes para verificar se ações de política monetária intensificam situações de racionamento de crédito.
Bernanke e Blinder (1988) formularam um modelo que introduz o crédito como um elemento propagador e amplificador dos efeitos da política monetária. Do seu desenvolvimento foi formulada a teoria do canal de crédito (BERNANKE & GERTLER, 1995), cujos desdobramentos foram vários. Baseados nesta teoria, Drechsler et al. (2017) propuseram a teoria do canal de depósitos bancários, que sugere que diante de elevações da taxa de juros, os bancos ampliam o spread sobre depósitos, enfrentam uma fuga de depósitos e, consequentemente, reduzem a concessão de empréstimos (DRECHSLER et al., 2017).
A identificação dos parâmetros nos modelos que apresentam vários níveis de efeitos fixos foi realizada com o uso do estimador de modelos lineares de dados em painel com múltiplos níveis de efeitos fixos (High-dimensional fixed effects model), conforme originalmente proposto por Guimarães e Portugal (2010). Para os demais modelos, a estimação dos parâmetros foi realizada com o uso do modelo de regressão para dados em painel por efeitos fixos e aleatórios e com o uso do método de estimação POLS (Pooled Ordinary Least Squares).
Os resultados sugerem que: 1) num cenário de elevação da taxa Selic, as regiões (municípios) com maiores níveis de concentração apresentam, na média, spreads de depósito mais elevados e enfrentam fugas de depósitos mais intensas; 2) mudanças na política monetária afetam negativamente o montante de depósitos bancários e são mais intensos em regiões com maiores níveis de concentração; e 3) o canal de depósitos afeta a concessão de crédito no Brasil, ao menos no que se refere às modalidades de "crédito empréstimos, financiamentos e desconto de títulos" e "financiamentos imobiliários".
Os resultados são favoráveis à teoria do canal de depósitos da política monetária e revelam que diante de ações de política monetária, como aumento da taxa Selic, os bancos no Brasil elevam seus spreads de depósitos, enfrentam retração nas suas captações e reduzem a concessão de crédito (aumentam a restrição de crédito). Ademais, há evidências de que a intensidade desses efeitos varia com o nível de concentração dos depósitos em âmbito local e específicos aos bancos, sendo mais intensos em regiões mais concentradas e/ou entre bancos que captam recursos em regiões mais concentradas.
BERNANKE,B.S.; BLINDER,A.S.(1988). Credit, Money, and Aggregate Demand. The American Economic Review, vol. 78, n. 2, p. 435-439. BERNANKE,B.S.; GERTLER, M.(1995). Inside the black box: the credit channel of monetary policy transmission. The Journal of Economic Perspective, vol. 9, n. 4, p. 27-48. DRECHSLER,I.; SAVOV,A.; SCHNABL,P.(2017). The deposits channel of monetary policy. The Quarterly Journal of Economics, vol. 132, n. 4, p. 1819-1876. GUIMARÃES,P.; PORTUGAL,P.(2010). A simple feasible procedure to fit models with high-dimensional fixed effects. The Stata Journal, vol 10, n. 4, p. 628-6