Resumo

A preocupação com os impactos causados por empresas no meio ambiente tem feito empreendedores contemplarem práticas ambientalmente sustentáveis em seus negócios. Assim, campos como o empreendedorismo relacionado à sustentabilidade passaram a assumir papéis imprescindíveis na transição de uma economia tradicional para uma economia mais sustentável (PARRISH; FOXON, 2009). Como o empreendimento sustentável está comumente relacionado aos valores e às escolhas pessoais do empreendedor, evidencia-se a necessidade de estudar sua figura, bem como suas motivações para iniciar empreendimentos.

Dado que a figura do empreendedor é indispensável nessa transição de padrões de atuação, este trabalho tem como objetivo central analisar as motivações que levam empreendedores a se engajarem em micro ou pequenas empresas ambientalmente sustentáveis ou ecoempreendimentos. Especificamente, buscou-se delinear o perfil dos ecoempreendedores e classificá-los de acordo com as tipologias de Walley e Taylor (2005), caracterizar os tipos dos negócios ambientais e identificar suas principais motivações.

Kirkwood e Walton (2009) observaram em seus estudos a existência de motivações relacionadas aos valores verdes do empreendedor. Os autores observaram também que (i) a identificação de um gap de mercado – motivação diretamente relacionada à visão que o ecoempreendedor possui a respeito de oportunidades voltadas para soluções ambientais ou produtos e serviços ambientalmente amigáveis –, (ii) a necessidade de empreender apenas para se sustentar financeiramente (sobrevivência) e (iii) a necessidade de independência e de não trabalhar para ninguém (ser seu próprio patrão).

O estudo possui abordagem qualitativa, natureza descritiva e adotou a estratégia de pesquisa de estudo de casos múltiplos. Foram utilizadas como fontes de coleta de dados, entrevistas semiestruturadas e documentos (website das empresas). Foram entrevistados quatro ecoempreendedores, as entrevistas foram gravadas e posteriormente transcritas. Essas evidências foram analisadas com uso da técnica de análise de conteúdo proposta por Bardin (2016).

Foi possível classificar os empreendimentos analisados em green business e em green-green business e os ecoempreendedores em oportunistas inovadores e em ethical Mavericks. Além disso, foram evidenciadas motivações convergentes com a literatura, como a identificação de um gap de mercado, independência, valores verdes, destruição e mudança e estilo de trabalho; e emergentes, como a insatisfação com o emprego anterior, deslocamento do mercado e desafios.

todos os empreendedores analisados evidenciaram a habilidade de perceber oportunidades ambientais como fontes de vantagens competitivas, indo ao encontro dos achados de Cato et al. (2008) e Bosman (2012), que apontam essa habilidade como sendo a ‘visão do ecoempreendedor’. Todos eles usaram a oportunidade de mercado identificada como potencial de diferenciação de produtos ou serviços por eles ofertados. Observou-se, ainda, a prevalência de fatores “pull” coadunando com os estudos de Segal, Borgia e Schoenfeld (2005) e Amit e Muller (1995).

BRUNELLI, M.; COHEN, M. Definições, diferenças e semelhanças entre empreendedorismo sustentável e ambiental: Análise do estado da arte da literatura entre 1990 e 2012. XXXVI Encontro da Anpad. Rio de Janeiro, 22 a 26 de setembro, 2012. WALLEY, E. E.; TAYLOR, D. W. Opportunists, Champions, Mavericks…? A typology of green entrepreneurs. In M. Schaper (Ed.), Making ecopreneurs: Developing sustainable entrepreneurship (pp. 27-42). Aldershot, UK: Ashgate Publishing Ltd. 2005.