Resumo

Atualmente, a indústria da moda é comandada pelo fast fashion, que se baseia em respostas rápidas às tendências, estimulando a criação contínua de desejos por produtos com ciclos de vida curtos e de rápida obsolescência. As desvantagens do sistema vigente na indústria possibilitaram o depertar do interesse global pela moda sustentável por meio do movimento slow fashion, que desenvolve uma compreensão abrangente de moda sustentável, priorizando roupas de fabricação local, de alta durabilidade, originadas a partir materiais sustentáveis, técnicas tradicionais de produção e do comércio justo.

O slow fashion tem sido discutido como alternativa ao sistema vigente de consumo e tem sido bem recebido por consumidores mais conscientes de moda sustentável. Na academia, as pesquisas empíricas sobre o tema cresceram nos últimos anos. Entretanto, os estudos sobre slow fashion ainda carecem de informações sobre quem são os seus potenciais consumidores e quais são os seus perfis. A partir do exposto sobre consumo de slow fashion, esta pesquisa tem como objetivo principal: identificar perfis de orientação ao consumo de slow fashion, verificando os fatores associados aos diferentes perfis.

Entendido como um mercado de desobediência à moda rápida, dominante na indústria de vestuário, o slow fashion traz uma proposta de moda sustentável baseada em coleções ecológicas e éticas (Antanavičiŋtė & Dobilaitė, 2015). Engloba noções de consumo consciente (Ertekin & Atik, 2014), uma vez que constitui uma mudança de mentalidade do consumidor, que passa a não responder mais ao consumismo e às tendências (Johansson, 2010). Assim, o slow fashion se fundamenta em princípios como abordagem local, sistemas de produção transparentes, havendo menos intermediação entre produtores e consumidores.

Trata-se de uma pesquisa do tipo survey, que reúne uma amostra de 461 consumidores de vestuários do Estado do Ceará. O instrumento de coleta de dados contou com questões relacionadas à caracterização do perfil do respondente e serviu pra medir a orientação ao consumo de slow fashion, por meio da escala desenvolvida por Jin e Jung (2014). A fim de atender ao objetivo da pesquisa, foram utilizados métodos estatísticos de análise descritiva, análise fatorial exploratória (AFE), análise de cluster por k-means e análise de correspondência (ANACOR).

Os resultados indicam validade da escala de orientação ao consumo de slow fashion no contexto desta pesquisa. Além disso, verificou-se a existência de três perfis de orientação ao consumo de slow fashion: (i) alta orientação; (ii) orientação parcial; e (iii) averso à exclusividade. Ainda, observou-se que existe associação entre os diferentes perfis e as variáveis demográficas relacionadas à localização, renda, faixa etária, orientação sexual, escolaridade, estado civil e ocupação.

Este estudo estende o corpo de conhecimento sobre slow fashion, se vinculando ao de Jung e Jin (2016) na tentativa de traçar perfis de potenciais consumidores. No entanto, vai além ao expandir a amostra inicial adotada pelos referidos autores (i.e. de 221 respondentes para 461). Além disso, explora o tema moda lenta em outro contexto cultural e mercadológico, aplicando a pesquisa no Brasil, especificamente com consumidores cearenses.

Ertekin, Z. O., & Atik, D. (2015). Sustainable markets: motivating factors, barriers, and remedies for mobilization of slow fashion. Journal of Macromarketing, 35(1), 53-69. Jung, S. & Jin, B. (2014). A theoretical investigation of slow fashion: sustainable future of the apparel industry. International Journal of Consumer Studies, 38(5), 510-519. Jung, S., & Jin, B. (2016). From quantity to quality: understanding slow fashion consumers for sustainability and consumer education. International Journal of Consumer Studies, 40(4), 410–421.