Resumo

O consumo de crédito se tornou uma prática comum para boa parte da população brasileira nas últimas décadas. Estimulados pelas recorrentes mensagens publicitárias, diversos cidadãos acabam comprometendo o orçamento familiar com o pagamento de juros para instituições financeiras. Segundo o IPEA (2012), o crédito privado no Brasil aumentou consideravelmente no período de 2001 a 2011, e passou de 27,2% para 51,6% do PIB do país. Nesse sentido, a população idosa do Brasil, que possui participação ativa no mercado de crédito, é um dos principais grupos de consumidores desse tipo de serviço.

Determinados grupos de consumidores tendem a ser vulneráveis nas relações de mercado, como os idosos. Estima-se, ainda, que em 2050 haverá cerca de 50 milhões de idosos no Brasil (ONU, 2012). Estudos recentes abordaram os prejuízos do consumo de crédito dos idosos na sociedade e o comportamento financeiro dos consumidores de crédito e suas relações com as dívidas. Contudo, não foram identificadas discussões sobre a temática à luz da vulnerabilidade do consumidor. Diante disso, este artigo objetiva compreender as experiências de vulnerabilidade enfrentadas pelos idosos no consumo de crédito.

A teoria da vulnerabilidade e resiliência do consumidor afirma que quatro fatores de risco impulsionam a ocorrência de experiências de vulnerabilidade de consumo: forças macroambientais, comunidade, família e individual. Os consumidores não vivenciam a impotência até que um evento disparador ocorra. O estado de vulnerabilidade de consumo pode ser reduzido com a resiliência do consumidor. Idosos são considerados consumidores vulneráveis em função de uma série de fatores culturais, sociais e estruturais. Esse estado de vulnerabilidade pode se manifestar no consumo de crédito.

Realizou-se uma investigação qualitativa de orientação fenomenológica. O objeto de pesquisa foi o idoso, residente em uma cidade do interior da Bahia, que consome crédito em instituições financeiras. Foram realizadas 15 entrevistas semiestruturas com idosos que realizaram empréstimos nos últimos 5 anos. As dimensões foram pré-estabelecidas, considerando os elementos da Teoria da Vulnerabilidade e Resiliência do Consumidor. A obtenção dos dados foi facilitada pela participação em um projeto social. Após a transcrição dos diálogos, os dados foram analisados por meio da análise de conteúdo.

As pressões individuais e familiares foram evidenciadas, em função da idade que possuem e da persuasão de filhos para a obtenção de empréstimos, respectivamente. As instituições financeiras adotam práticas nocivas contra o consumidor idoso. As necessidades de consumo básicas (compra de alimentos, quitação de dívidas) foram eventos disparadores para as experiências de vulnerabilidade, marcadas pela dependência dos consumidores por fatores externos. Contudo, foi constatado que entrevistados se adaptam no consumo desse serviço, buscando evitar as experiências de vulnerabilidade.

As instituições financeiras, apesar da regulação que recebem, adotam práticas gerenciais nocivas para os seus consumidores, em especial àqueles que são mais suscetíveis a vivenciarem experiências de vulnerabilidade, como os idosos. Enquanto as instituições financeiras encaram esse grupo de consumidores como um “nicho de mercado” atrativo, que possui renda fixa (aposentadoria) e tem inclinação a contrair empréstimos, agentes públicos e membros de organizações sociais devem aprimorar os mecanismos de defesa desses consumidores.

BAKER, S.; MASON, M. Toward a process theory of consumer vulnerability and resilience: illuminating its transformative potential. In: MICK, D..; PETTIGREW, S.; PECHMANN, C.; OZANNE, J. (Eds.) Transformative Consumer Research for personal and collective well being: reviews and frontiers. NY: Routledge, 2012. XIAO, J. J., SORHAINDO, B., & GARMAN, E. T. Financial behaviours of consumers in credit counselling. Journal of International of Consumer Studies, v. 30, n. 2, p. 108-121, 2006.