Resumo

Título do Artigo

ROMANTIZAÇÃO DA RESISTÊNCIA: BASTA EXISTIR PARA RESISTIR?
Abrir Arquivo

Palavras Chave

Resistência
Existência
Quilombo

Área

Estudos Organizacionais

Tema

Genero, Diversidade e Inclusão nas Organizações

Autores

Nome
1 - Elisângela de Jesus Furtado da Silva
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS (UFMG) - Campus Pampulha
2 - Stefânia de Castro Helmold
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS (UFMG) - Pampulha

Reumo

Pensar em alternativas para os processos que marginalizam e segregam grupos sociais não é uma tarefa fácil, mas já é possível perceber que existem caminhos construídos. Um deles é justamente demonstrar práticas emancipatórias presentes nos próprios grupos, alçando-os à locus de representatividade política. Essa é uma das formas de se compreender o estudo da resistência em grupos sociais. Ocorre que, uma grande quantidade de trabalhos tem reforçado a resistência, o que sinaliza a necessidade de compreender melhor a como se dá a produção teórica em torno desse fenômeno.
As comunidades quilombolas são reconhecidas como símbolo de resistência e no contexto atual, falar sobre elas é um dos meios de problematizar a luta política e a reflexão científica (LEITE, 2000) das pessoas negras no país. Considerando-se as provocações apresentadas na Introdução, este trabalho tem como objetivo compreender se o cotidiano de uma comunidade quilombola, enquanto organização social não hegemônica, pode ser circunscrito enquanto resistência, compreendida como consciência política e histórica.
As comunidades quilombolas contemporâneas podem ser vistas como um dos tipos de organizações afro-brasileiras. Segundo Siqueira (1997), essas organizações sociais têm a resistência como finalidade, e estariam ligadas às referências africanas por meio das continuidades reelaboradas. A ideia de que os quilombos são um símbolo de resistência ao escravismo e à organização social vigente no Brasil Colônia está presente em muitos trabalhos (BRASIL, 2018; ALVES; COSTA, 2017; ROSSI, 2016; SOUTY, 2015; MOTA, 2012; RATTS, 2006; MOURA, 1987).
Foi utilizada a estratégia de pesquisa qualitativa conjugando-se dois métodos para construção de dados: i) História Oral (THOMPSON, 1992) e ii) observação participante (NETO, 2002). A História Oral proporciona compreender em profundidade, aspectos do cotidiano com base na narrativa dos participantes. Foram quase dois anos de acompanhamento do grupo, como visitas, participação e organização de eventos culturais, religiosos e políticos. Essa vivência ao longo da pesquisa foi registrada em notas de campo e é pertinente como método de observação participante (NETO, 2002).
As considerações de Reis (2007) e Litte (2004) demonstram o equívoco em perceber a dinâmica social de comunidades negras sob uma ótica reducionista e essencializada. Rotular a existência desses grupos a resistência é justamente reduzir e essencializar experiências de vidas extremamente dinâmicas e complexas e que para sua análise correta o contexto sempre deve ser considerado (WODAK, 2001). Diversos autores reforçam os riscos ligados ao essencialismo (HALL, 2001; FOUCAULT, 1996), já que essa percepção ignora as diferenças em detrimento de uma explicação pretensamente universal.
Determinar que Quilombos são símbolos de resistência é imputar-lhes uma função, um objetivo, algo que não se sustenta com base no estudo realizado. Evidenciar a resistência é algo que se liga a um determinado posicionamento político sensível à causa quilombola, mas ao preço de silenciar para a dinâmica rica e complexa em que tais grupos estão imersos. O resultado desse processo pode ser considerado como uma produção teórica rasa, que, embora aliada politicamente, não acrescenta por excluir das análises tudo que não pode ser associado ao ideal romântico de organização resistente.
KUABARA, P. S. S.; SACHUK, M. I. Apontamentos Iniciais Sobre a Gestão da Diversidade: Dilemas e Significados. Revista Cesumar–Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, n. 17, v1, 2011. LEITE, I. B. Os Quilombos no Brasil: Questões conceituais e normativas. Rev. Etnográfica, vol. IV, pag. 333-354, 2000. LITTLE, P. E. Territórios sociais e povos tradicionais no Brasil: por uma antropologia da territorialidade. Anuário Antropológico/2002-2003, Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2004: 251-290. MOURA, C. Quilombos: Resistência ao escravismo. São Paulo: Ed. Ática, 3 ed. 1987.