Resumo

Título do Artigo

A VIDA É CRUEL, NÃO A ARTE: ADERIR OU RESISTIR À ESTRUTURA DO CIRCUITO DE ARTES PLÁSTICAS?
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Palavras Chave

Arte
Simbolismo
Economia

Área

Estudos Organizacionais

Tema

Simbolismos, Culturas e Identidades Organizacionais

Autores

Nome
1 - FELIPE MATEUS ASSIS SOARES
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS (UFMG) - CEPEAD
2 - Luiz Alex Silva Saraiva
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS (UFMG) - Faculdade de Ciências Econômicas

Reumo

Em uma sociedade desenvolvida sob os preceitos de uma economia baseada no consumo, os mais variados segmentos se voltam para a acumulação de riquezas. A arte, em suas inúmeras linguagens, não escapa a essa lógica, mas, de forma complexa, se apresenta como um espaço de intensas disputas no qual o simbolismo artístico, oriundo de seus discursos institucionais configura um jogo simultâneo de adaptação e resistência em relação às narrativas econômicas.
Nesse artigo, a partir de uma reflexão organizacional sobre a dinâmica do meio artístico, o objetivo é identificar práticas de aderência e de resistência desenvolvidas pelos artistas plásticos profissionais de Belo Horizonte. Assumimos a arte enquanto fenômeno complexo, parcialmente caracterizado por uma aderência a objetivos mercadológicos, e buscamos examinar a esfera organizacional da arte de forma crítica, particularmente como a influência desses discursos.
O ideal de expressão atribuído à arte divide espaço com outras narrativas, que se tensionam estruturam um segmento organizacional (Saraiva, 2007). A força da economia no campo da arte (Cauquelin, 2005) explica porque agentes não-artistas dominam o campo (Bourdieu, 2015), relegando os artistas a um papel secundário (Heilbrun & Gray, 2004). A partir desse cooptação da arte pelo discurso econômico (Robertson, 2005), a relevância reside na legitimação da obra de arte, o que torna o artista, responsável pela produção, como uma pequena engrenagem do sistema, substituível e dependente das demais.
A produção de dados relacionados à essa pesquisa ocorreu entre os meses de maio e setembro de 2018, tendo sido constituída por entrevistas semiestruturadas em profundidade com 13 artistas em Belo Horizonte, nove homens e quatro mulheres, com idades entre 29 e 60 anos, atuantes principalmente no âmbito da pintura, mas que lidam com linguagens como a serigrafia, gravura, escultura e azulejaria, música, dança, instalações e performances. O material foi submetido à análise crítica do discurso sob a ótica de Fairclough.
A perspectiva adotada, voltada para os artistas, tendo em vista toda a polifonia característica do ambiente pesquisado, evidencia a construção de práticas mais profissionalizadas entre a adequação e a resistência ao sistema. Os sujeitos dessa pesquisa, enquanto artistas profissionais, desenvolvem tal leitura do ambiente, imprimindo práticas para se manter, adaptar e resistir, garantindo sua existência. Algumas dessas práticas puderam ser identificadas durante as entrevistas – precificar a obra de arte, ser fiel à galeria, constituir ações coletivas e sobreviver de forma alternativa.
As principais conclusões evidenciam, no âmbito dos Estudos Organizacionais, os dados constituem insumos para discussões qualificadas sobre a dinâmica agência-estrutura, reafirmando a importância da ação dos sujeitos. No que tange à dinâmica organizacional verificada em Belo Horizonte o caráter marginal assumido pelo artista na cadeia de legitimação da arte implica serem investigadas novas dinâmicas de influência, possibilidades promissoras de estudos futuros.
Bourdieu, P. (2015). A economia das trocas simbólicas (8a ed). São Paulo: Perspectiva. Cauquelin, A. (2005). Arte contemporânea: uma introdução. São Paulo: Martins Fontes. Heilbrun, J. & Gray, C. M. (2004). (Eds). The economics of art and culture (2nd ed). Cambridge: Cambridge University Press. Robertson, I. (2005). (Ed.). Understanding international art markets and management. London: Routledge. Saraiva, L. A. S. (2007). A cultura como fenômeno econômico e simbólico. In A. P. Carrieri & L. A. S. Saraiva. Simbolismo organizacional no Brasil (pp. 13-34). São Paulo: Atlas.