Resumo

As pesquisas sobre reflexão crítica (RC) e aprendizagem transformadora (AT) são conduzidas por diferentes abordagens paradigmáticas que nem sempre estão em acordo com suas abordagens metodológicas (Lundgren & Poell, 2016). Embora a raiz da teoria da RC/AT esteja ancorada na teoria crítica, o que predomina nos estudos é uma preocupação com a mudança individual e não social (Gambrell, 2016). Pesquisas orientadas à RC/AT buscam entender as mudanças na organização do ponto de vista da melhoria do desempenho profissional, sem buscar por transformação de contexto (Souza & Brunstein, 2018).

O objetivo deste artigo é promover uma discussão sobre reflexão crítica e aprendizagem transformadora, quanto ao uso das suas abordagens paradigmáticas e metodológicas nos estudos organizacionais.

No referencial teórico são apresentadas as bases filosóficas, as perspectivas, as múltiplas concepções e as distintas unidades de análise que embasam a teoria de RC e AT, na visão de Taylor e Cranton (2012), Mezirow (2010) e Brookfield (2000), essenciais para fundamentar a discussão proposta no ensaio. Ainda nessa seção, são apresentados diversos estudos a partir dos quais os autores revisam as abordagens metodológicas utilizadas e seus instrumentos de avaliação, no que se refere à RC e AT nos estudos empíricos nas organizações.

No que se refere às questões de ordem paradigmática, RC/AT estão alicerçadas em abordagens positivistas e interacionista simbólico interpretativista, implicando na criação de possibilidades de mudança, seja na prática individual, no contexto em que se está inserido, ou a serviço da performance no trabalho. No que tange os aspectos metodológicos, a análise dos estudos evidenciou uma inadequação à corrente teórico-crítica, orientada à mudança de contexto, pois se observou o uso de instrumentos de pesquisa que capturaram a mudança apenas no nível individual.

Quando se quer examinar como a análise e a compreensão da natureza de RC e AT por suas ferramentas, encontra-se o desafio de construir instrumentos de análise mais apropriados para tal fim. A questão fundamental não é abordagem metodológica nem o instrumento em si, mas como aprendemos sobre RC e AT a partir dos dados. Assim, não se deve impor um delineamento de pesquisa apenas, mas olhar aspectos subjetivos por várias lentes (Romano, 2018), promovendo uma abordagem interdisciplinar na epistemologia do conhecimento sobre a RC e AT, numa atitude de diálogo entre vários campos do conhecimento.

Brookfield, S. (2000). The concept of critically reflective practice. Handbook of adult and continuing education, 33-49. Mezirow, J. (2010). Transformative learning theory. In J. Mezirow & E. W. Taylor (Eds.), Transformative learning in practice (pp. 18–32). San Francisco, CA: Jossey-Bass. Taylor, E. W. & Cranton, P. (2012) The handbook of transformative learning: Theory, research, and practice. San Francisco, CA: Jossey-Bass. Romano, A. (2018). Transformative learning: A review of the assessment tools. Journal of Transformative Learning, 5:1, 53-70.