Resumo

A gamificação em contexto organizacional brasileiro é escolhida como tema central deste ensaio teórico, no qual procuramos refletir sobre a sua aplicabilidade também no contexto organizacional, questionando a sua validade para todos os envolvidos, observando até que ponto ela pode vir a (des)humanizar as relações entre as pessoas. Por mais que a gamificação possa agregar valor as atividades diárias numa organização, nos questionamos: será que ela agrega o mesmo valor às pessoas envolvidas? Ela também traz ganhos às pessoas ou está apenas a serviço do capital, da mais valia?

Este ensaio teórico tem com como objetivo instigar o debate sobre a contribuição da gamificação no contexto brasileiro, tanto para com as organizações como para as pessoas que dela fazem parte, provocando a seguinte questão de pesquisa: A gamificação humaniza ou desumaniza os processos de gestão nas organizações?

A gamificação afeta o comportamento das pessoas, o que exige cuidado na sua aplicação (DALE, 2014). A literatura sobre gamificação tem enfatizado principalmente o seu lado positivo e pouca importância tem sido dispensada para o lado negativo ou valoração para o trabalhador (SHAHRI, 2014). Corroboramos com o autor que há uma linha tênue entre a face positiva e negativa, de um lado enquanto ferramenta para o desenvolvimento de diversos processos organizacionais de maneira mais lúdica e, de outro, fonte de tensão e pressão que pode afetar o bem-estar social e mental do trabalhador.

Queremos evidenciar as duas facetas da gamificação: a atratividade e o possível abuso e alienação. Será que podemos arriscar afirmar que a integração entre tecnologia e ser humano, pode deixar as organizações mais humanizadas? A gamificação ao ser bem trabalhada, pode trazer benefícios tanto para as organizações como para os trabalhadores, ou seja, nos parece possível trabalhar com o viés humanizador. Entendemos que ela deve servir apenas como uma ferramenta de apoio, com adesão voluntária, depois planejada, atendendo não apenas os anseios organizacionais, mas também o bem-estar do trabalhador

A gamificação quando bem trabalhada pode trazer ganhos tanto para as organizações como para os trabalhadores que delas fazem parte. Entretanto, tais processos são facilitados quando as tecnologias fazem parte do cotidiano organizacional, pois os trabalhadores já estariam familiarizados com tecnologias diversas. Portanto, os diferentes contextos e questões culturais precisam ser observadas ao se optar pela gamificação, se fazendo uma avaliação criteriosa sobre a sua aplicabilidade. A aplicabilidade da gamificação também tem que ser importante e salutar para os trabalhadores.

DALE, S. Gamification: Making work fun, or making fun of work? Business Information Review. v. 31, n.2, p. 82–90, 2014. MATOS, B. A.; CARMO, L. J. O.; ASSIS, L. B. Quantas estrelas você vale? Uma análise da gamificação em um episódio da série Black Mirror. Farol - Revista de Estudos Organizacionais e Sociedade, v. 5, n. 13, p. 792-845, 2018. SHAHRI, A et al. Towards a code of ethics for gamification at enterprise. In: IFIP WG 8.1, Working Conference on The Practice of Enterprise Modeling, PoEM 2014, 7., 2014, Manchester, UK. Proceedings…, Heidelberg: Springer, 2014. p. 235–245.